Voz da Póvoa
 
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São Pedro Leva o Bairrismo a Sua Casa

São Pedro Leva o Bairrismo a Sua Casa

Cultura | 29 Junho 2021

A história repetiu-se, mas é esperado um final feliz. No ano passado, quando já se agendavam ensaios das rusgas nos seis bairros populares da cidade, uma invisível doença começou a morder a vida e a sua normalidade, tendo a Câmara Municipal cancelado as festas em honra de São Pedro, tal como todas as outras. A última a sair à rua foi a Senhora das Candeias, em Terroso, a 2 de Fevereiro de 2020.

Um ano e alguns meses depois, o Santo Pescador continua de quarentena e se do mar a sardinha pode chegar à brasa e ao pão, a mesa terá que ser a da cozinha ou do quintal, pois as ruas vão continuar com saudades do futuro.
 
“Antes do Governo decidir a proibição de organizar festas e romarias, já tínhamos assumido essa posição. Na reunião com os bairros, onde esteve presente o Presidente da Câmara, a solução encontrada foi reunir as marchas de cada bairro no Pavilhão Municipal e fazer uma gravação (decorrida a 6 de Junho) para o Porto Canal, cumprindo todas as regras de segurança. Não é nem nunca será a mesma coisa, mas podemos sempre imaginar que é a exibição das rusgas no estádio do Varzim, transmitida pela televisão. Fizemos testes em cada 15 dias, de acordo com a delegação de Saúde. Dentro do possível, as rusgas ensaiaram e deram o seu melhor, na defesa do seu bairro. A gravação será transmitida na noitada de São Pedro e esperamos que seja do agrado de todos os poveiros, que mais uma vez, devem festejar em família. No dia 29 de Junho, será feita outra transmissão com as tradições dos bairros e os seus tronos. Foi esta a solução encontrada para os festejos do S. Pedro. Queremos todos voltar às ruas, mas neste momento não é possível”, alerta Luís Diamantino, Vice-presidente da Câmara e vereador da Cultura, Educação e Desporto.
 
O momento impõe regras: “A situação pandémica não permite outros festejos. Temos que limitar-nos às reuniões em família porque não é possível fazer nada na rua, muito menos colocar assadores e fogareiros. Podemos acompanhar pela televisão, todos os bairros a marchar, e ao mesmo tempo, comermos uma sardinha no pão, assada no quintal da casa. Temos a esperança que no próximo ano regressemos ao normal. O que fizemos, foi no sentido de proteger as pessoas. Não podemos arriscar fechar a cidade no verão, seria recuar no desconfinamento, como está a acontecer noutras cidades do país”.

Com o acelerar da vacinação e a abertura das portas da cultura, dentro das regras impostas pela Direcção-Geral da Saúde, a Feira do Livro volta a organizar-se, revela Luís Diamantino: “Penso que é uma iniciativa diferente e de fácil respeito pelas regras e normas de segurança. É a festa do livro, sem as emoções provocadas pela alegria das marchas dos bairros a dançar pelas ruas, onde as pessoas se amontoam para exaltar as suas cores. No ano passado, não tivemos nenhum problema e penso que podemos repetir este ano. trata-se apenas de contactar com os livros e os livreiros agradecem, tal como os amantes da literatura. Além disso, não haverá qualquer espectáculo”.

Há também um regresso da cultura ao palco do Cine-Teatro Garrett: “Fiz questão de estar presente no primeiro espectáculo de Teatro, com a sala esgotada dentro das regras, ou seja, metade da lotação. Curiosamente, o mesmo tem acontecido no regresso do cinema àquela sala. Vamos continuar a fazer cultura dentro do que nos é permitido, neste retorno à vida”.
 
E acrescenta: “Esta pandemia trouxe-nos também alguns ensinamentos. A organização da cidade e o seu funcionamento. Os comerciantes, com o desconfinamento, vieram pedir à Câmara que as taxas de estacionamento fossem repostas para que o comércio voltasse a funcionar. É preciso rotatividade para abrir espaço a outros. O regresso dos eventos culturais é necessário para alimentar o espírito e o nosso ego. Precisamos todos desta aprendizagem que vem dos livros, da música ou da dança. A multiplicidade de eventos culturais é que faz o todo que somos nós. Esperemos que no próximo ano, a normalidade nos devolva o que tínhamos e que cada vez mais valorizamos, e áquilo que podemos ter. Temos que estar abertos à novidade”.
 
Como vereador da Educação, Luís Diamantino, recorda que não foi fácil ir para casa nem mais tarde regressar à escola: “Penso que os meninos, os adolescentes, os estudantes no geral, já estavam fartos de estar em casa frente à frieza do computador, que nos distancia quando queremos estar presentes. O regresso às escolas correu bem. Como sempre afirmei, a escola é um lugar seguro e as regras permitiram aumentar essa segurança. Os problemas que podem surgir nunca são dentro da escola, mas fora dela. Há um trabalho de formação do pessoal docente, não docente e dos alunos. Na educação, avançámos também com um novo curso de alfabetização e literacias. Só se conseguem verdadeiras vitórias quando toda a comunidade trabalha e colabora para o mesmo fim”.

Ao nível desportivo os clubes poveiros, nas várias modalidades, acabaram por cumprir e em alguns casos até se comportaram acima da média, mesmo sem o incentivo e aplauso do público. “A Câmara Municipal continua a apoiar os clubes. O mesmo aconteceu com as associações culturais da cidade e do concelho porque entendemos que depois da pandemia há o dia de amanhã. Os clubes também souberam perceber o momento e tentaram diminuir as despesas, até porque as receitas tiveram uma quebra. Os feitos e as vitórias são fruto da entrega de atletas, treinadores e dirigentes. Temos no pelouro do Desporto, o Plano de Promoção ao Atletismo, o desenvolvimento do Ténis de Mesa, o BTT, o Inter Freguesias, actividades que movimentam milhares de atletas, mas também aí a organização percebeu que não era possível, cancelando provas e campeonatos. O regresso decorre aos poucos e a normalidade acabará por acontecer. É preciso ter bom senso e compreensão”.

Luís Diamantino não crê que no ano que vem, livre de pandemia, tudo possa acontecer em dobro: “Se isso fosse possível já teria sido feito. Agora, acredito que as festas de São Pedro possam surgir com mais sentimento e dedicação. A saudade fala sempre mais alto. As próprias Correntes d’Escritas querem voltar à sua origem, ao afecto, ao abraço de literaturas, de cumplicidade entre leitores e escritores. São essas as raízes das correntes, olhos nos olhos e não dentro do ecrã da televisão ou do computador. As tecnologias são bem-vindas, mas nada substitui o afecto, a presença”.

Por: José Peixoto

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