A Quinta da Regaleira debruçava-se sobre a Estrada Nacional de Sintra, testemunhando o desespero da mulher ajoelhada ao chão.
O longo vestido, outrora alvo e bem composto, recaía, amarrotado e encardido sobre o corpo d’Ela, estampando a imagem concreta do fracasso.
Não era a primeira vez que o Engano se travestia e adentrava a sua vida prometendo o céu que não tinha, mas, certamente, seria a última.
Caminhou lentamente pela estrada de alcatrão, como quem carregasse um corpo, que não era seu, consigo.
Do buquê que trazia nas mãos despencavam pétalas de hortênsias, azuis como céu que se erigia acima dela.
Troteou assim, despacito, até a Cascata dos Pisões, deixando-se encantar pelo verde que cobria os muros antigos e pelo som da água que falava-lhe direto ao coração.
É que dentro dela, naquele momento, jazia represado um Tejo inteiro à espera de desaguar e arrasar o que encontrasse pelo caminho.
O pranto e o vestido amarravam o seu peito e cortavam a sua respiração, o ramalhete sem flores mostrava os planos que jamais frutificariam, enquanto a água convidava a um mergulho, oferecendo alívio ao sofrimento atroz.
Inconscientemente Ela, que nunca fora dada a suportar desconfortos, levou a mão aos botões do vestido e aliviou a pressão sobre os pulmões.
Foi mais longe que isso: despiu as anáguas, as saias, o espartilho, enquanto ouvia as vozes dos curiosos a cochichar, por entre os muros, inverdades sobre a mulher que enlouquecera de desamor.
Maria, A Louca, era Ela!
A adentrar as águas mágicas de Sintra, nua como veio ao mundo, para vestir-se de si mesma!
Maria Luiza Alba Pombo, escritora