Voz da Póvoa
 
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Os Livros são Memórias do Tempo e das Árvores

Os Livros são Memórias do Tempo e das Árvores

Cultura | 18 Fevereiro 2025

 

Não se trata de uma certeza, apenas de um episódio, o 14.º do “Ciclo Aberto” na Fundação Dr. Luís Rainha. A escolha recaiu no último dia do mês de Janeiro e o convidado foi o distinto bibliófilo, Francisco Marques, que reúne na sua vasta colecção numerosos incunábulos (livros impressos nos primeiros tempos da imprensa com tipos móveis) e diversas edições muito raras dos séculos XVI e XVII, sempre escolhidas com grande critério e erudição.

Para o Coordenador, Aurelino Costa “o que se passa nesta casa é prazer e diálogo. Um prazer de substância termos connosco Francisco Marques, um bibliófilo”, natural das Marinhas fez a instrução primária nesta freguesia do concelho de Esposende. Levava “a lanterna para a cama onde devorava os livros que trazia da biblioteca”. E assemelhou Francisco Marques à Biblioteca de Alexandria, “é um dos mais notáveis e maiores bibliófilos deste país, um homem com uma coordenada geográfica que não reside meramente neste espaço bucólico e marítimo de Portugal, mas que tem uma intervenção igualmente enorme desde o Brasil, os Estados Unidos, e de outros países da Europa a que pertencemos”.

Francisco Marques começou por dizer que, “mais do que ser bibliófilo é ser amante dos livros, um dialogante de um mundo determinado”, e acrescenta que “um bibliófilo pode ser apenas um coleccionador de livros”.

Se o ouvido não se fez surdo, o primeiro livro impresso do mundo foi a Bíblia de Gutenberg, impressa na Alemanha em 1452, e o livro mais antigo que possui é de 1473. Mas, Francisco Marques preferiu mostrar aos presentes na Fundação, um livro de 1474, por ser o “incunábulo mais bonito que tenho”.

Explicou também que, “os livros não têm todos a mesma apreciação, nem toda a gente lhe dá o mesmo valor”. Mas falou de alguns que atingem verbas impensáveis, 260 mil euros ou mais.

Quanto a usar luvas para pegar ou folhear obras antigas e de valor inestimável, diz que pode ser bom e mau, “prefiro senti-lo nas mãos nuas. A sensibilidade para mim é mais importante que a ideia de não sujar, transpirar”. 

A sua pesquisa em livreiros estrangeiros ou leilões tinha como principal objectivo “trazer para Portugal livros antigos de autores portugueses”, mas revelou casos em que contactou bibliotecas municipais e autarquias para saber se estavam interessadas em adquirir determinada obra de um autor ligado à terra, “nem resposta davam”.

Recordou que em pleno Estado Novo “era na livraria Victor em Braga que encontrava os livros que a censura proibia”, em Luanda também havia uma livraria que vendia livros proibidos, mas um dia a Pide confiscou tudo e a livraria acabou por fechar.

“Os livros contam a história, dessa forma chegamos ao passado”, lembrou Francisco Marques. Quanto a visitar o lugar dos seus livros é possível, mas “não deixo fotografar a minha biblioteca”. Disse também não conhecer nenhuma mulher bibliófila, “livreira sim”.

Depois de assistir a este episódio podemos concluir que o bibliófilo é aquele que tem um pacto com o ‘Tratado das Esperas’.

Por José Peixoto

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