Voz da Póvoa
 
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Os Dedos Entre Cordas e Emoções

Os Dedos Entre Cordas e Emoções

Cultura | 2 Setembro 2023

 

Há dias assim. Saímos com a interrogação “Quem é Silvestre Fonseca?" e encontramos no 9º episódio do Ciclo Aberto uma mão cheia de cordas e outra de músicos. Os fins de tarde de certas sextas-feiras da Fundação Dr. Luís Rainha são sempre uma agradável surpresa para quem quer mais que a rotina e o tédio dos dias que nos recomendam. 

Com a coordenação de Aurelino Costa e de Sousa Lima, no dia 4 de Agosto, o palco foi entregue ao grande músico e compositor convidado, mas outros nomes que dedicam o seu tempo e estudo à música entre outras obrigações profissionais ofereceram os dedos às cordas e fizeram a plateia sonhar. 

“Na arte somos todos um armazém do já feito”, começou por dizer Silvestre Fonseca, que ao recuar no tempo de estudante acrescentou que, “um avanço no tempo era fumar na sala de aulas”. Da memória foi buscar “quatro ou cinco amigos a cantar Zeca Afonso”, e “a ver tocar Blues fechava os olhos a imaginar como se fosse eu”.

Também o compositor e guitarrista José Duarte Costa, fundador da primeira escola de guitarra ‘clássica’ nos anos de 1950, foi lembrado: “Um grande concertista, que implementou o seu próprio método de ensino para guitarra. Chegámos a tocar juntos”. Um outro mestre: “Estudei composição com Joly Braga Santos”.

Para Silvestre Fonseca, “quem pensa que vai brilhar, morre antes de começar”. Há excepções, mas “a bondade mora entre os criadores”. Só assim os palcos são lugares felizes. No entanto, a tertúlia entre criadores permite elevar o sonho à realidade. Com a intenção de aproximar as ausências, o mestre da guitarra buscou entre “o conforto urbano, a traça rural”, e pensou criar numa sua casa, na aldeia de São Vicente da Raia, em Chaves, “O princípio da partilha”, que “é o melhor que podemos ter”. Depois, “compor é um estado de alma e conhecimento, mas o talento não é capaz de tudo. Há a música, as uvas, o vinho, a convergência dos sentidos… A minha mãe dizia-me – dá-te com os bons que assim confundem-te”.

Enquanto Marcelo Benta fazia aparecer entre pinceladas e cores as gentes do mar, quadro leiloado e adquirido por 500 euros que reverteram a favor da Beneficente, outras músicas e músicos partilharam sons e saberes com o público. 

O convidado, Silvestre Fonseca, interpretou uma criação sua – Melodia de uma Noite. Não há ordem nem desordem, apenas música e poesia. João Costa interpretou: do Estudo nº 4 e da Modinha, do grande Heitor Villa-Lobos. Será que o ouvi ou vi!

Depois foi como pintar o vento em “Sons do Tejo”, de Silvestre Fonseca, interpretados com mestria por João Pedro Monteiro e Carlos Costa.

Ainda no discurso das cordas entrou a guitarra clássica de Aires Pinheiro, um encantamento e uma responsabilidade “um banho de imersão é o que a arte nos dá”.

houve ainda tempo para ouvir ‘Poveirinhos’ de António Nobre, na voz de Aurelino Costa e na guitarra de Silvestre Fonseca – Poveirinhos! meus velhos pescadores! Na Agoa quizera com vocês morar: Trazer o lindo gorro de trez cores, Mestre da lancha Deixem-nos passar! 
Os créditos artísticos, a usurpação foi também tema de conversa, mas como disse Aurelino Costa, “não há ninguém normal no mundo, a arte passa o precipício”.

Por José Peixoto 

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