Voz da Póvoa
 
...

Ortopóvoa Mostra “A Forma da Pedra” Saída das Mãos

Ortopóvoa Mostra “A Forma da Pedra” Saída das Mãos

Cultura | 22 Outubro 2022

 
Pela vontade dos deuses os esculpimos ou endeusamos. Sabemos que o acto criativo é na sua raiz uma inquietação desmedida ou incapaz de se conter em invólucro. Mesmo que inofensivamente, o artista dispara sempre na direcção da cabeça onde moram os sentidos e só depois a intenção se aloja no coração.
 
Foi este rasgo de desassossego que encontrei na obra escultórica de Carlos Rodrigues apresentada no dia 15 de Outubro, na Galeria d’Arte Ortopóvoa e que por lá irá continuar até final de Janeiro a expor “A Forma da Pedra” arrancada à beleza no feminino, mesmo quando se trata apenas de uma árvore que nos adivinha ou questiona o fruto original e sem pecado. 
 
“Desenho muito antes de partir para a pedra. Depois, antes de pegar na rebarbadora que é o meu pincel, risco a pedra para ver as profundidades, o espaço que vai ocupar. Por uma questão de anatomia, tenho que perceber se a pedra se enquadra e cabe dentro da peça que eu tenho”, revelou Carlos Rodrigues.
 
O escultor natural de Angola e residente em Vila do Conde explica que, “no meu trabalho não parto de um bloco único, há sempre uns bocadinhos de pedra que vão aparecendo e acrescento à peça que idealizei”.
 
O universo feminino é muito explorado na obra de Carlos Rodrigues que diz procurar na escultura a “beleza da mulher, no corpo do homem procuraria a força”. Mas, reconhece que “há peças que são planeadas e até às vezes muito desenhadas. Há outras em que eu olho para a pedra e ela sugere-me aquilo. Há pedras que têm uma textura natural e tudo o que eu gosto nelas, é só trabalhar a escultura sugerida pela pedra”. E conclui: “Não gosto de ver aquela pedra muito acabadinha, muito lisinha, muito lavadinha. Há sempre fragmentos naturais que ficam lá, pertencem à pedra”.
 
Isabel Patim, curadora da exposição, revela o que mais a encantou no trabalho do escultor: “Ele olha a pedra e já está a ver formas e depois vai moldá-la, mas sem retirar-lhe a sua identidade. Ele vai dialogando com a pedra e isso consegue ver-se em várias das obras expostas porque há uma conjugação de texturas, de cores. Para um escultor que está no seu processo criativo, é um sinal de grande respeito, não só pela nova matéria, mas também em termos conceptuais, de criação, de ouvir o que os materiais têm a dizer, a sugerir”.
 
Para o director da galeria, Afonso Pinhão Ferreira, esta 27ª exposição catalogada mantém o objectivo de promover e divulgar a arte na sua diversidade, e acredita que a Póvoa de Varzim tem hoje uma dinâmica cultural maior, mas “não com a dimensão que as pessoas pensam, vamos ser honestos. Nós não podemos enfiar a cultura nas pessoas, podemos é criar condições para que as pessoas gostem de se cultivarem”. E acrescenta: “Eu penso que não podemos querer que todos sejam cultos. O que podemos fazer é com que a sociedade fique cada vez mais culta. Este é o nosso contributo, é o contributo que a Ortopóvoa tem dado ao patrocinar estas exposições, não pretendo mais que isso”.
 
O médico e artista plástico revelou que há na forja “um livro de filosofia política, chama-se ‘Lusitano Afonso’ e demorei mais tempo a escrever que a fazer a minha tese de doutoramento. Pretendo dizer da experiência de um sexagenário que é o que eu sou ao mundo universitário, o que ê que pensa do mundo”.
Do livro que será apresentado no Diana Bar, a 25 de Novembro, abriu de memória o último capítulo que trata de um “conjunto de preceitos, no sentido do que deveria regular o mundo, não tão parecidos com o que estamos habituados a ver, mas preceitos que hoje, à luz dos olhos de hoje, na oportunidade de hoje, poderiam levar a que o mundo fosse um pouco melhor e não tão desorientado como anda”.
 
Quem também fez questão de estar presente foi o Presidente da União de Freguesias Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai, Ricardo Silva que sobre a 27ª exposição na Ortopóvoa disse que “Afonso Pinhão Ferreira faz isto pelos seus próprios meios, nada natural em empresas privadas e por isso é de louvar este esforço que ele como mecenas dedica à cultura”.
  
A galeria d’Artes Ortopóvoa significa para o Presidente da Câmara Aires Pereira, presente na exposição ‘A Forma da Pedra’, “um contributo para aquilo que uma empresa sediada na Póvoa faz de responsabilidade social” e agradeceu a Afonso Pinhão Ferreira a sua “contínua disponibilidade ao serviço da promoção da cultura e da arte”.
partilhar Facebook
Banner Publicitário