Voz da Póvoa
 
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O Uivo dos DESALADOS e outras Esculturas

O Uivo dos DESALADOS e outras Esculturas

Cultura | 19 Março 2022

O voo da águia é tão real que nos remete para a impossibilidade de voar. Desalados correm, bicam no ar o vento como se a qualquer momento o corpo se possa elevar. “Se é certo que cumprimos a pena lavrada em cinza, fria, soturna, sem centelha, ainda assim, aguardamos, consumimos espanto, o advento da brisa fervente que nos levante do chão.” Escreveu João Mansilha Branco sobre a exposição ‘DESALADOS e outras esculturas’ que na galeria de arte A Filantrópica se mostra ao público desde sábado. O seu cúmplice é Guilherme Fonseca, docente de Educação Visual na EB2,3 de Aver-o-Mar, que sempre se interrogou entre o esbracejar e o voar. 
 
A mão tocadora de cores ou o fértil imaginário musical. “Se ligarmos o nervo auditivo aos olhos não sei o que acontece. Gosto muito de música e acho que as cores, se quisermos, têm sonoridade”, sublinha o escultor.

Há um jardim de Desalados que nos expressa a liberdade “são seres que não conseguem voar por alguma razão e quantas vezes isso nos acontece”, revela Guilherme Fonseca e explica: “Depois tem os outros, as outras esculturas. Aquela águia voa, mas são peças que surgem, às vezes é só isso. Os Desalados não. Os Desalados acompanham-me pela vida. Os mais recentes estão no chão. Há nesta exposição uma ausência de possibilidade para voar”. 

Criada a peça num material mais claro, ela vai para a fundição que poderia ser uma interrogação para o escultor: “No princípio sim, tens uma maior dificuldade em saber o resultado final. Cheguei a pintar e escurecer a peça para lhe dar o tom do bronze, para imaginar o meu querer. Com o tempo, já sabes o que vai acontecer porque começas a conhecer o bronze e a ver as possibilidades de patines (cores). Trabalho com o fundidor há 11 anos, o Manuel, já somos cúmplices”.

Também o presidente da Assembleia Geral d’A Filantrópica e artista plástico, Afonso Pinhão Ferreira nos revelou que tinha com o escultor, uma relação de amizade e admiração: “De admiração porque se tem revelado um artista incomum, ímpar. Consegue conjugar um figurativismo com algum surrealismo. Ou seja, sai fora da arte canónica. Depois olha-se para esta exposição e vê-se que há aqui uma harmonia. São peças do Guilherme, um artista que criou um estilo próprio”. 

Para além da Garça “há mais que um uivo porque fica a forma, que está feita de tal maneira que olhamos para a peça e ouvimos o uivo. Mas há mais, a formação de uma peça destas tem toda uma concepção não linear. Uma coisa é pegar em barro e conformar uma forma, outra é perceber que o escultor tem uma técnica própria, trabalha com plástico aquecido, isso significa que há inovação nesse aspecto”. E conclui: “É uma exposição fantástica. A Filantrópica está de parabéns, isto é promover a cultura”.
 
DESALADOS e outras Esculturas, pode ser visitada até 5 de Abril. 

Por: José Peixoto

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