Voz da Póvoa
 
...

O Pretérito Perfeito ou a Origem da Imperfeição

O Pretérito Perfeito ou a Origem da Imperfeição

Cultura | 13 Março 2022

Ao homem não se lhe reconhece uma só perfeição que não seja a sua existência esculpida pelo acto de procriar. Foi isso que na Galeria d’Arte Ortopóvoa, se proporcionou demonstrar com a exposição de esculturas de Hélder Carvalho ‘A Origem da Imperfeição’, uma mostra integrada nas manifestações paralelas do Correntes d’Escritas, inaugurada a 23 de Fevereiro, que pode visitar nos próximos dois meses. 

O ontem conheceu já uma década e esta é a 25ª exposição de artes, um acontecimento que Afonso Pinhão Ferreira, Administrador e Director Clínico da Ortopóvoa prefere enaltecer, o escultor convidado “tem uma obra pública muito vasta e à parte da arte figurativista tem a vertente criativa que está demonstrada nesta exposição. Hélder Carvalho é um artista completo porque sabe o que são cânones, porque teve escola, sabe desenhar e criar um pouco de tudo. Esta exposição é harmónica e marcar-me-á para sempre”.

Sobre ‘A Origem da Imperfeição’ o também artista plástico e escultor explicou que “as esculturas parecem imperfeitas, mas foi assim que as figuras foram feitas. Ou seja, se fossem imperfeitas não eram feitas assim, e cada uma sendo uma imagem distorcida de uma viagem sucedida. E acrescenta: “Quando vemos alguma coisa em movimento é uma sobreposição de imagens. O que o Hélder fez foi captar essas imagens que ele chama imperfeitas, se houvesse muitas daquelas faria um movimento tal que atingiria a perfeição. Foi a leitura que eu fiz da escultura do Hélder”. 

Socorrendo-se de Pascal que questiona porque é que as pessoas têm que trabalhar, fazer arte, ir ao teatro, têm que fazer tudo aquilo para além da existência, Afonso Pinhão Ferreira sublinha que, o filósofo francês introduz o conceito de distração, “uma necessidade que o homem tem e que nos distingue dos outros animais, que, como sabemos têm a percepção do mundo que não é a percepção humana porque esta tem a consciência da mortalidade. E por isso, temos sempre um grau de melancolia ou de infelicidade, daí termos que nos distrair. Por isso, é que o homem tem que trabalhar e o gato não. Por isso, é que temos que fazer arte e os outros animais não têm”. 

Isto permite-nos concluir que “se a sociedade não quer que o homem seja infeliz, é melhor que os políticos, quem governa, quem controla, quem regula a sociedade, pense – o que é que é preciso fazer para que a sociedade dos meus pares não seja tão infeliz – por ventura é dar-lhe armas para se distraírem. Ou seja, o ensino da filosofia, o ensino da arte, de tudo o que tem a ver com a distração do Ser humano e que lhe pode trazer menos infelicidade. Por isso, eu e outros como eu se sentem bem a patrocinar a arte”. 
    
Hélder Carvalho partilhou “não tenho que falar muito sobre a minha obra porque há três textos no catálogo que falarão por mim e eu não saberia falar melhor. Começaria por agradecer à Póvoa de Varzim onde tenho duas peças escultóricas em espaço público e que para mim são representativas. Além disso, permitiram, por ventura, criar outras esculturas mais livres na minha vontade de exprimir como acontece nesta exposição. O que quero é agradecer a todas as pessoas que se envolveram para tornar possível esta exposição, mas sei que é a amizade que há-de continuar, mais que as palavras”. 

Por: José Peixoto

partilhar Facebook
Banner Publicitário