Voz da Póvoa
 
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“O Humano Destrói o Humano” n’A Filantrópica

“O Humano Destrói o Humano” n’A Filantrópica

Cultura | 26 Janeiro 2024

 

Sabemos que o grão de areia que representamos na imensa praia do mundo pode influenciar, mas “Rosalinda / se tu fores à praia / se tu fores ver o mar / cuidado não te descaia / o teu pé de catraia / em óleo sujo à beira-mar / a branca areia de ontem / está cheiinha de alcatrão / as dunas de vento batidas / são de plástico e carvão / e cheiram mal como avenidas / vieram para aqui fugidas / a lama a putrefacção / as aves já voam feridas / e outras caem ao chão.

Mas na verdade Rosalinda / nas fábricas que ali vês / o operário respira ainda / envenenado a desmaiar / o que mais há desta aridez / pois os que mandam no mundo / só vivem querendo ganhar / mesmo matando aquele / que morrendo vive a trabalhar / tem cuidado... 

O artista plástico Aparício Farinha inaugurou no dia 6 de Janeiro, na galeria d’A Filantrópica a exposição de pintura “O Humano Destrói o Humano”, que pode ser visitada até 1 de Março. As obras em acrílico e óleo, aliadas a expressivas gravuras proporcionam uma experiência visual que ultrapassa o belo e nos aproxima do cada vez menos usado e até ousado pensamento. 

A arte, os seus instintos, as suas reflexões, sempre fizeram o caminho do futuro. A arte nunca insinua, provoca ou abriga-se em alertas. O artista é chamado pela consciência que o move, pela luz que o inebria, mas também pelos assombramentos que a humanidade enfrenta. As novas realidades ambientais, o aquecimento global, a destruição das florestas, a negligente cegueira que Fausto Bordalo Dias escreveu e cantou como se hino fosse: Em Ferrel lá p´ra Peniche / vão fazer uma central / que para alguns é nuclear / mas para muitos é mortal / os peixes hão-de vir à mão / um doente outro sem vida / não tem vida o pescador / morre o sável e o salmão / isto é civilização / assim falou um senhor / tem cuidado.

Natural de Vila Nova da Telha, mas a viver em Nogueira, concelho da Maia, a arte de Aparício Farinha tem nesta exposição o papel de sensibilizar e conscientizar o público para uma verdadeira reflexão artística sobre a Devastação Ambiental. A sua formação em engenharia civil permite-lhe uma abordagem entre a humanidade e o meio ambiente, como encaixar cada peça do puzzle sem comprometer o equilíbrio. Há em cada tela um comprometimento com a mensagem, com a urgência de reverter os danos causados à natureza.

Na realidade, somos o grão de areia a quem são acatadas todas as responsabilidades, mas era importante que todos percebêssemos que enquanto uns nos alertam para a pegada carbónica, outros inundam o mar de radiações e outros tantos produtos tóxicos que alastram pelos territórios do mundo a política de terra queimada. 

Por:José Peixoto

Fotos: Rui Sousa

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