Voz da Póvoa
 
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O Discurso da Arte no Percurso da Líbido

O Discurso da Arte no Percurso da Líbido

Cultura | 8 Outubro 2021

Encerrou no sábado, n’A Filantrópica – Cooperativa Cultural, o I Curso de Medicina Sexual, organizado pela Associação Portuguesa de Medicina Sexual (APMEDSEX). Durante três dias, foram vários os palestrantes que se debruçaram sobre a saúde sexual e a viagem do seu tratamento que passa pela Medicina Geral Familiar, Psiquiatria, Ginecologia ou Urologia.
 
“Ninguém duvidará que a sexualidade de cada um é mais ou menos intensa, carrega mais ou menos líbido consoante a experiência sexual que a vida nos proporcionou e proporciona, bem como a percepção cultural que da vivência captamos”, foi a razão justificativa que deu o mote a Afonso Pinhão Ferreira, professor catedrático, médico dentista especialista em ortodontia, artista plástico e escultor, para iniciar a conferência ‘O Discurso da Arte no Percurso da Líbido’.

Na função de Presidente da Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim, felicitou os presentes no I Curso de Medicina Sexual, por terem escolhido a Póvoa de Varzim e fez votos para que “levassem uma grata recordação da comunidade”.

No seu percurso da líbido referiu que “o ambiente cultural que nos rodeia injecta-nos referências simbólicas que são responsáveis por imaginarmos experiências que vão para além da nossa própria realidade”.

Uma fotografia de Sophia Loren, que caracteriza o erotismo entre os anos 50 e 80, habitou na juventude o seu quarto: “Foi um dos símbolos que acionou o gatilho da minha líbido, tendo deixado marcas para toda a minha vida”.

Depois, buscou nos filósofos Mark Rowlands, António Damásio, Santo Agostinho, Sigmund Freud ou o pensador do corpo Georges Bataille, mas também nos desenhos, pinturas e esculturas, de artistas como Salvador Dali ou Gustave Coubert, para nos dizer que “a arte tem no desenvolvimento da líbido um papel importante, dado que ela enquanto interiorização, manifestação criativa e contemplativa é indubitavelmente a suprema manifestação humana, a qual não está ao alcance dos demais animais”. Como somos capazes de regular a máquina orgânica procuramos “criar contextos diferentes sedutores aos apelos do desejo humano, no que se refere à procura do prazer”. O erotismo precisa-se porque o sexo não nos satisfaz.

Somos fabricantes de fantasias sexuais, e “ao evocarmos a nossa memória, as recordações e recriações surgem na forma de imagens” é desse molde que o desejo sexual se expõe, se estimula e mais tarde se transforma em acto.

O prazer sexual é fugaz, daí a importância da demora no tempo, de não o consumir rapidamente na prática. “Dessa forma tudo o que é erótico torna-se mais compreensível culturalmente, já que é algo regulado, mostrado, exposto que se realiza, que se imagina. É aqui que entra a arte enquanto suprema forma de expressão”, no caso, a arte erótica a qual certamente, “como tudo o que é cultura tem o discurso assente no percurso narrativo”.

O sexo é uma troca de cumplicidades, “é portanto, nas pessoas que o erótico se especializa”, mas que se alonga ou encurta no “imaginário que a cultura permite construir”. Já o real é cruente “fazendo com que a experiência erótica se posicione fora da vida quotidiana”
Da imaginação brota “uma disputa silenciosa de desejos, prolongando o tempo adiando a satisfação, saboreando o que é bom”. Também o artista cria, imagina, idealiza: “As nossas fantasias serão sempre para além da realidade, vamos sempre mais longe que as nossas possibilidades. Fantasiamos sobre aquilo que gostamos, sobre o inacessível e desejamos fazer, idealizamos o que nos faz falta”. Daí esta certeza: “A fantasia é assassina da monotonia”.

Para terminar, Afonso Pinhão Ferreira recordou uma visita à Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma, que abriga o êxtase de Santa Teresa, a obra-prima do escultor Lorenzo Bernini: “Quando o carnal e o divino se tornam uno, a arte religiosa também constrói a líbido”.

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