Voz da Póvoa
 
...

Na Casa Mandim Até ao Fim

Na Casa Mandim Até ao Fim

Cultura | 6 Julho 2022

 

A Casa Mandim foi quase sempre assim: “Começou por ser uma casa de material eléctrico, primeiro junto à antiga Padaria Cadeco, onde hoje encontra lá uma ourivesaria. Depois, saiu desta loja uma sapataria e viemos para cá. Começámos por vender electrodomésticos e tínhamos o tecto cheio de candeeiros, mas naquela altura era tudo pago por letras, alguns clientes falhavam e tínhamos que assumir a dívida porque as letras venciam-se. O negócio começou a fracassar e acabámos por mudar de ramo. Nos últimos 54 anos, esta casa, aqui no Largo David Alves, só vendeu música. Primeiro em vinil e cassetes, e nas últimas três décadas CD’S e DVDs, os primeiros ainda se vendem, mas os segundos praticamente só se vendem para crianças. Recentemente voltaram a vender-se discos em vinil”, recorda Lucília Martins Coutinho.

Natural de Braga, aos 84 anos continua a gerir a loja de discos que mais resistiu ao tempo, agora por pouco mais tempo: “Com muita mágoa minha vou entregar a loja. Ainda hoje não estou mentalizada que isso vai acontecer no final do mês de Agosto. Segundo o meu guarda-livros, tenho registados cerca de 3000 CD’S e alguns discos de vinil. Quero ver se vendo tudo, mas vou fazer umas promoções. É um fim de colecção real. A casa vai para obras e não posso ficar aqui. Não tenho intenção de abrir o negócio num outro estabelecimento. A Casa Mandim vai mesmo chegar ao Fim”.

Na longa vida da Casa Mandim, “vendia-se muita música portuguesa. Os picos de venda aconteciam nas férias dos emigrantes, no verão e no Natal. Mesmo no dia da ceia os fornecedores de discos entregavam caixas de encomendas. Oferecia-se mais discos que livros, era mais fácil ouvir que ler. Os emigrantes gostavam muito de música portuguesa que tivesse concertina. Também vendi muitos cartuchos de fita magnética que se usavam nos aparelhos de leitura dos automóveis”.

Lucília Martins Coutinho traz à memória que no tempo do Póvoa-Cine: “as pessoas vinham ao cinema e enquanto esperavam pela hora, encostavam-se junto da loja a ouvir música. Tenho clientes de longa data que compraram todos os registos de gravação até ao CD e me contam esta saudade. Lembro também que, a rádio Renascença ligava-me para saber qual o disco que mais vendia para fazerem o Top de vendas. São tempos que não voltam. O António Vitorino de Almeida na última vez que veio ao Garrett, entrou aqui e ficou admirado por ainda haver uma loja de discos. Este lugar onde passei uma vida, será sempre para mim uma eterna saudade”.

Numa casa com mais de 50 anos, a última com este negócio, ainda que seja só por recordação, deve comprar um disco de vinil ou CD!

partilhar Facebook
Banner Publicitário