Voz da Póvoa
 
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Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade

Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade

Cultura | 24 Junho 2025

 

Nos últimos anos o panorama literário sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto expressivo de obras de escritores nacionais ou lusodescendentes residentes no estrangeiro, que através do mundo dos livros têm dado um importante contributo para o conhecimento de múltiplas dimensões da realidade emigratória portuguesa.

Entre essas obras, avultam trabalhos de autoras nacionais ou lusodescendentes, dedicadas às mundividências femininas no contexto migratório, umas das dimensões da emigração portuguesa que por via destes contributos literários começa a ser mais conhecida, estudada e valorizada.

Um dos exemplos mais recentes, que asseveram a importância destas obras no campo da mundividência da emigração, mas também da criação literária, até porque como destaca  a investigadora Ana Paula Coutinho, conquanto “seja já vasta a bibliografia produzida por nacionais e estrangeiros sobre a emigração portuguesa, a sua dimensão cultural e literária tem sido utilizada, quando muito, enquanto documento de leitura sociológica ou antropológica, mas pouco explorada, desde logo em termos criativos e, consequentemente a nível da crítica literária”,  encontra-se vertido no livro Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade.

O livro recentemente dado à estampa, é um contributo da Editora Alma Letra, proficientemente organizado pela professora Aida Baptista, que nos últimos anos de docência desempenhou o cargo de Leitora de Língua e Cultura Portuguesas no Estrangeiro, ao serviço do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICALP) e do Instituto Camões (IC), presentemente vice-presidente da Direção da Associação Mulher Migrante – AMM. E por Joaquina Pires, antiga Conselheira em Desenvolvimento Comunitário e Relações Interculturais na Câmara Municipal de Montreal, e autora do livro Empreintes Portugaises (Marcas Portuguesas), publicado aquando dos 70 anos da emigração portuguesa para o Canadá.

Como salienta Maria da Graça Sousa Guedes, Presidente da Direção da Associação Mulher Emigrante, na mensagem que integra a obra, Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade, são “histórias de vida de 40 mulheres que nos dão a conhecer os seus percursos, que se cruzaram nos caminhos da nossa diáspora, na procura de outros horizontes no imenso Canadá e, especificamente, no Quebeque, com as suas particularidades culturais e linguísticas. Caminhos difíceis e sinuosos, que estas mulheres guerreiras percorreram no seu processo de aculturação em busca de um merecido empoderamento. E venceram!”.

Neste sentido, esta obra, já apresentada em Montreal, na Associação Portuguesa do Canadá (APC), e em Espinho, na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva, encorpada por quatro dezenas de testemunhos sobre percursos de vida de mulheres luso-canadianas, não deixando de contribuir para o fomento da criação literária. Representa, concomitantemente, um relevante contributo para o conhecimento do fenómeno migratório, em particular ao nível da dimensão feminina, de uma das mais relevantes comunidades portuguesas na América do Norte, que se destaca pela dinâmica da sua atividade associativa, económica e sociopolítica, e cujas raízes remontam aos anos 50.

Constitui, um tributo às mulheres emigrantes portuguesas e lusodescendentes no Quebeque, a segunda província mais populosa do Canadá, depois do Ontário, onde se estima que vivam mais de 60.000 pessoas com ascendência lusa. Retratando, em primeira pessoa, histórias de coragem, resiliência e afirmação que cruzam gerações e geografias. Embora centradas numa realidade específica, estas vivências transcendem fronteiras, refletindo lutas universais por autonomia, liberdade e pertença. É, acima de tudo, uma singela e despretensiosa homenagem à força feminina, ao poder de reescrever destinos e à construção de identidades híbridas que mantêm viva a ligação às raízes.

Numa época em que a diáspora portuguesa está a ser cada vez mais valorizada, tanto no país como no estrangeiro, e que a nível literário há mais portugueses a ler, sobretudo entre os mais jovens, ainda no ano passado um estudo da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), apontava que sete em cada 10 portugueses (73%) disseram ter hábitos de leitura e que leem, em média, 5,6 livros por ano, continuando o papel a ser o formato preferido de 93% dos portugueses para ler, mas 17% leem já livros em formato digital.  A obra Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade, enquanto repositório de um conjunto diverso de experiências e narrativas vivenciadas por mulheres luso-canadianas, assume-se como um importante contributo no alumiamento da componente feminina no fenómeno migratório, que vai ao encontro do anelo de Lygia Fagundes Telles, uma das mais importantes ficcionistas da literatura brasileira: “Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos. Agora somos nós que vamos dizer o que somos”.

Daniel Bastos, historiador

Capa do livro Mulheres Portuguesas no Quebeque – Caminhos de Liberdade

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