Voz da Póvoa
 
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Monólogos para a Lua

Monólogos para a Lua

Cultura | 6 Agosto 2025

 

Sentada à varanda da casa, há tão longo tempo desejada, sob a luz da Lua Crescente, Ela escutava a melodia encantada da música nativista.

Esse som, que lhe servira de alento em tantos negros momentos passados longe da terra natal, agora embalava os planos que trouxera consigo de além-mar.

Vez por outra olhava para a Lua e empeçava uma conversa:

“Eu sou muito grata por tudo o que tenho, tu sabes?

Sei que ainda tenho muito mais a receber, mas o que tenho me faz realmente feliz.

Feliz por ter, finalmente, aprendido a viver só, sem sentir-me só…

Não é toda a gente que consegue, não é verdade?

É facto que saber que tenho o meu amor, contribui imenso. Nem todo o mundo tem um amor…

O ser humano anda tão desesperado por encontrar o amor que acaba por amarrar-se a qualquer um. Não percebe que o amor se constrói dia a dia, com dedicação, flexibilidade, mas, acima de tudo, paciência.

Bem, na maioria das vezes…”

A Lua, muda e impassível, apenas assentia com um sorriso largo e brilhante, enquanto ela continuava:

“Em poucos dias, não estarei mais sozinha…

O meu amor está para chegar, sabes?

Tu sabes, sei eu. Observas o mundo aí das alturas, conheces os meus passos e o meu coração melhor do que ninguém.

Mas, ainda assim, confesso-te que esse tempo que por aqui passei, a aprender a conviver comigo mesma, foi transformador… e necessário!

Essa pessoa que habita o mais profundo do meu ser, que eu permiti que ganhasse voz e reluzisse à tua luz, à luz de todos os astros e estrelas, enche-me de orgulho!”

A música continuava a tocar e, em alguns momentos, roubava a sua atenção, tocando o seu coração e a sua alma luso-brasileira, eternamente dividida entre dois continentes.

Voltou a atenção para o farol que iluminava as suas noites e prosseguiu:

“Sei que eu não preciso dizer-te nada dessas coisas, mas agrada-me dizê-lo. É bom falar em alta voz sobre as nossas vitórias, especialmente depois de tantas derrotas…”

O pensamento d’Ela cruzou o Atlântico e perdeu-se, entristecido, por instantes…

Respirou fundo, voltou ao presente, e finalizou:

“Bem, muito me agradou a nossa prosa, mas despeço-me, por hora.

Continuamos outro dia, ou outra noite, se preferires...

É bom conversar contigo, quase tão bom quanto conversar comigo mesma!

Desejo-te um bom serão e que não testemunhes muitos desconsolos por hoje.

Prometo-te escrever sobre o que falamos, e sobre o que não precisamos falar.

Até amanhã!”

Não se pode deixar de cumprir uma promessa feita à Lua!


Maria Luiza Alba Pombo, escritora 

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