Voz da Póvoa
 
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Meio Século “Cá… Pela Cidade” da Póvoa de Varzim

Meio Século “Cá… Pela Cidade” da Póvoa de Varzim

Cultura | 23 Novembro 2023

 

A galeria tem o nome da clínica, Ortopóvoa, espaço que no dia 17 de Novembro, recebeu a mais recente exposição de pintura e escultura, de Afonso Pinhão Ferreira, “Cá…pela Cidade”.
 
Promovida no âmbito das Comemorações do 50.º Aniversário da Elevação da Póvoa de Varzim a Cidade, que tiveram início a 16 de Junho último. Esta é a 30.ª exposição de arte na Galeria Ortopóvoa, desta vez com a curadoria de José Rosinhas, ou a arte de ser livre e nos mostrar pelo seu olhar.

“O facto de ter trabalhado com o artista plástico, pintor e escultor Afonso Pinhão Ferreira, permite estudar e ir conhecendo melhor a pessoa. Depois, haver entre nós amizade, é conhecer na íntegra a pessoa. É mais fácil, mas depois também se torna difícil porque a questão afectiva não pode sobrepor-se à questão profissional. Temos que ter brio”, recorda José Rosinhas.

E sublinha que, “neste caso, Afonso Pinhão Ferreira ia trabalhando e eu acompanhando, sabia muito bem a quem ele queria prestar tributo ou homenagear. Também venho à Póvoa desde bebé e compreendo muito bem a parte afectiva. Como já trabalhei enquanto curador neste espaço, foi fácil, no sentido de que não tenho uma tela branca, é uma parede azul muito trabalhada e com um designer muito forte, o que já rouba algum protagonismo às obras, que dificulta a sua colocação, mas dá um gozo tremendo porque todas as obras estão no sítio certo. Quando comecei a receber as obras, rapidamente percebi o seu lugar. O bom de assistir a outras curadorias, aqui, é não fazer o que os outros fazem”. Como curador, “somos mediadores entre a obra e o público, o artista e o público, temos essa responsabilidade. Teremos que colocar a obra no sítio certo e de ajudar a valorizá-la”. 

Afonso Pinhão Ferreira revela nunca ter pensado “chegar à exposição número 30 e todas catalogadas. Há um registo que fica e sinto algum orgulho nisso”. Quanto à exposição que inaugurou disse que “para além da mostra, está associada aos 50 anos de elevação da Póvoa a cidade, e eu vivi isso. Vivia em Vila do Conde e estudava na Póvoa, e lembro-me de apanhar o autocarro do Linhares, depois do jantar, e vir para a noite de festa. Um dos quadros que está na exposição, que representa o quiosque na praia, chama-se 16 de Junho, 11 horas de 1973. Eu estava ali perto porque apanhava o autocarro para Vila do Conde ali quase junto à farmácia”. E aponta para o quadro do coro Capela Marta “tem gente que viveu estes 50 anos abertamente, estão ali 25 pessoas, sendo que o mais jovem é o maestro”.

Num olhar mais atento, encontramos um quadro do Antoninho Marta, a rabanada poveira, o prato da pescada poveira, a sardinha - que seria o São Pedro sem ela e sem a tricana também representada numa escultura, onde não escapou ao artista o pormenor do risco na meia na barriga da perna. O Cego do Maio, a camisola poveira no corpo do Luís Calafate, entre outras personalidades e quatro quadros das praias poveiras. Quem visita a exposição, vê um pouco da Póvoa também nestes 50 anos.

Sobre a Galeria Ortopóvoa, o seu administrador Afonso Pinhão Ferreira, reconhece que houve a intenção de “criar mostras de arte sistemáticas, espaçadas, de forma que a população pudesse acorrer à galeria e ao mesmo tempo à clínica. Creio que quem expõe aqui tem a sua exposição mais visitada do que em outras galerias. Para além da mostra permanecer três meses, os pacientes que vêm à clínica, em grande número, visitam a exposição. Depois, os jornais locais gostam de ajudar os artistas, mas também quem patrocina a arte”.

A clínica Ortopóvoa tem entre 12 a 14 mil fichas de pacientes, sendo que mais de metade não é da Póvoa: “Cerca de 60% das consultas são feitas a pessoas de Guimarães, Braga, Porto, Esposende, portanto estas pessoas que vêm aqui e contactam com a arte, a quem oferecemos catálogos, naturalmente promovem os artistas e a cidade porque também nos visitam. Em termos empresariais e em termos de comunidades, as duas coisas juntas são importantes”.

Sobre a sua obra artística, diz não haver nenhuma escultura ou quadro de que goste mais, “sei as que me deram mais ou menos trabalho. Se eu não gostar de uma peça, garanto que não a exponho e deito-a fora, ou melhor, faço-a desaparecer”. 
 
É sempre bom assistir às inaugurações, há o artista, uma primeira explicação da sua arte, mas nunca são o melhor dia para ver as obras e o seu posicionamento, porque há sempre muita gente e a luminosidade, a distância, a proximidade, o pormenor, precisa da nossa atenção, do nosso encontro com a obra e as inquietações do artista. Só assim a reflexão e a apreciação no seu todo são possíveis. 

Por: José Peixoto

Fotos: Rui Sousa

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