Voz da Póvoa
 
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Manuel Lopes ou a Escola da Memória

Manuel Lopes ou a Escola da Memória

Cultura | 14 Agosto 2021

A melhor forma de recordar Manuel Lopes é muitas vezes lembrar outros gestos que o tempo não apaga. Oito anos passaram, mas podemos sempre reler o tempo quando o deixamos escrito:

A Lancha Poveira Recordou Manuel Lopes

 No tempo da vela em todos os barcos, quando o Outono trazia consigo marés de inverno, o grito do Ala-Arriba fazia-se ouvir no coração da Lapa. No areal da praia do peixe semeavam-se as lanchas dos poveiros, as catraias e outros barcos ainda mais pequenos. Era um tempo de fome para os homens do mar.
 
Os anos passam a contar a história. A lancha poveira do alto “Fé Em Deus” foi reconstruída para o mar matar saudades e dar ao vento um tempo de memória. Nos últimos 22 anos fez-se escola da vida. Viajou por mares nunca antes navegados por uma lancha. Em todas as primaveras fez-se ao mar, em todos os outonos recolheu o mastro, a verga e a vela, abraçando o ancoradouro no cais da marina. Embebida de mar, aguarda curar as feridas da idade e voltar, para o ano, a agarrar o vento no pano.

Desta vez, a Fé Em Deus escolheu o último dia de Setembro para, no mar, homenagear a última viagem (2006) de Manuel Lopes, o grande responsável pela construção da escola da memória, a Lancha Poveira. Com um vento de feição e um mar gravido de ondas, mestre Agonia Areias rumou até ao lugar onde agora mora o grande timoneiro, e leu para a tripulação um texto elaborado pelo sentimento que sempre o uniu a Manuel Lopes, o antigo director do Museu e da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.

A Lancha Poveira do Alto “Fé em Deus”

A “Fé em Deus” é uma embarcação de pesca tradicional de origem secular. Em 1991 foi reconstruída uma réplica segundo normas e modelos tradicionais e representa uma das últimas lanchas poveiras a ir ao mar.

O início da construção deu-se a 27 de Fevereiro de 1991 seguindo o sonho de Manuel Lopes um Poveiro amante da cultura e muito respeitado pela população. É desde então a embarcação tradicional portuguesa que mais navega por mar, promovendo a memória do pescador poveiro e português.

Manuel José Ferreira Lopes nasceu a 30 de Maio de 1943, no n.º 68 da Avenida Mouzinho de Albuquerque, na Póvoa de Varzim. Foi Director do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim e da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto. Foi também coordenador do Boletim Cultural “Póvoa de Varzim”, onde publicou vários trabalhos e outros repousam nas gavetas à espera de respirar em livro.

A 25 de Junho de 1994, o Município da Póvoa de Varzim atribuiu-lhe a Medalha de Prata de Reconhecimento Poveiro.
 
A 14 de Agosto de 2006, a Póvoa de Varzim que o viu nascer apagou-lhe a vida e ofereceu-lhe a eternidade.

 

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