Voz da Póvoa
 
...

Luís Leal e as "Lealdades" de uma Vida

Luís Leal e as "Lealdades" de uma Vida

Cultura | 19 Fevereiro 2022

A vida vai longa e o que fica são as lealdades. Apetece dizer que o melhor palco seria o estádio do Varzim. A paixão pelo clube de coração, adiou mesmo o casamento. “O momento que recordo como o mais feliz foi quando o Varzim subiu de divisão, em 1962. O clube nunca tinha entrado nos campeonatos nacionais, foi a primeira vez. Eu tinha 28 anos, e adiei o casamento uma semana porque queria estar nesse jogo. O Varzim jogou em casa com o Académico de Viseu e marcou cinco golos, depois tinha que ir a casa deste. Era por eliminação, quem ganhasse subia de divisão. Como o Varzim tinha ganho por 5-0, eu pensei – está garantido – tinha dito ao padre que não podia casar no domingo por causa do jogo. Depois, na semana a seguir, apanhei um susto porque o Varzim perdeu 4-1. Lá se ia o casamento nesse dia de S. João”, pode ler-se na fotobiografia ‘Lealdades’ do jornalista poveiro Luís Leal, que não tarda completa 88 anos e ainda se mantém em actividade. A obra foi apresentada, no dia 16 de Fevereiro, na sala principal do Cine-Teatro Garrett, entre familiares e amigos, um dos quais Fernando Rocha, ex-jornalista e actual vereador na Câmara de Matosinhos.

Para que se perceba o percurso de uma notícia e a sua longevidade, Maria Flor recordou mais uma passagem do livro: “Decorriam os princípios dos anos 50, quando o Varzim andava pelos campeonatos distritais. Como devoto varzinista e já comovido do jornalismo, sempre que acompanhava a equipa alvinegra, por campos onde viviam equipas filiadas da Associação de Futebol do Porto, levava como companheira uma tosca mala de madeira com divisões próprias para o transporte de pombos-correios. Quem me fornecia era um devoto columbófilo varzinista meu vizinho, Manuel Galante, para transformar os pombalinos em telégrafos. Como ainda não havia telemóveis, serviam os Alados da Paz para transmitirem o mais rapidamente possível os resultados dos jogos do Varzim aos adeptos que se agrupavam em redor do pombal, tarde fora à espera de boas e más novas, a uma distância que não ultrapassava a trintena de quilómetros. Como? Ao intervalo, a meio da segunda parte e no final dos jogos, a minha missão era escrever o resultado do jogo, nessa altura, numa mortalha de cigarro. Dobrava o leve papel e cuidadosamente introduzia na anilha do pombo-correio com um nó devidamente seguro, e assim era deixado voar. Mal aterrava no pombal do tio Galante, havia sempre alguém para espalhar a notícia, dos resultados dos jogos, pelos recantos poveiros ligados às tertúlias varzinistas. E assim começou a roer dentro de mim o bichinho da informação”.
    
Para o editor da Tipografia Poveira, Lopes de Castro, na fotobiografia ‘Lealdades’ encontraremos “o Luís Leal que conhecemos, que lemos. É o velho tipógrafo que compunha o jornal Comércio da Póvoa, colocava tipo a tipo, de tal forma os seus automatismos de tipógrafo já estavam dominados. Mas, é este Luís Leal que ainda é jornalista e domina perfeitamente o computador, a internet, o mesmo que não se deixou vencer pelas novas tecnologias”.

Na apresentação da obra esteve o jornalista Armando Martins Morim, que enumerou diversas facetas da vida do amigo poveiro, agora homenageado em livro.
 
O Vice-presidente, vereador da Cultura e Desporto, Luís Diamantino, também sublinhou a importância para a comunidade local do poveiro que “marcou de forma notável o associativismo e o desporto no concelho, mas sobretudo, estamos aqui a celebrar a amizade porque as histórias do livro só o Luís Leal as sabe contar assim”.

Igualmente o Presidente da Câmara, Aires Pereira, presente na plateia justificou o merecimento da Medalha de Reconhecimento Poveiro, atribuída na cerimónia de homenagens no Dia da Cidade 2021: “Muito mais que a homenagem ao homem foi ao jornalista e àquilo que ele representa na história da nossa cidade. Homenagear, em vida, um cidadão atento e preocupado com tudo o que envolve a Póvoa de Varzim”.

Por último, Luís Leal agradeceu a quem achou por bem que, “deveria ser protagonista de muitas coisas relacionadas com a minha terra e não só. Pegaram em alguns recortes de jornais com opiniões que eu fui espalhando pelos anos fora e por essas terras além, fazendo disso motivo para reunir em livro reforçado com a ousadia de rebuscar o meu baú de fotografias e, entre alguns milhares, retirar as imagens que mais lhes convinha para criar uma fotobiografia com testemunhos, que até a mim me surpreende por ter andado envolvido em tantas e variadas manifestações”. E conclui: “Todo o trabalho que desenvolvi, sem olhar a credos religiosos e políticos, foi em prol do semelhante da minha terra e da carreira que abracei, em transmitir ao público leitor as opiniões e comentários dos mais variados campos de acção. Se foi por isso que quiseram lançar este livro, o meu muito obrigado”.
    
O jornalista Luís Leal é o sócio nº 3 do Varzim, fundador e director do jornal O Varzim, colaborou com vários jornais, entre os quais, os desportivos A Bola e o Record, onde ainda publica. Na sua dedicação ao desporto popular, foi o impulsionador do Plano de Promoção de Atletismo no concelho. A fotobiografia Lealdades teve a coordenação, recolha e acompanhamento de Angélica Santos e Joana Leandro. 

partilhar Facebook
Banner Publicitário