Estávamos os três sentados à mesa na hora do jantar: Eu, a Maria que, na altura, tinha 3 anos e o Sebastian no auge dos seus 8 anos de idade.
Imperava no ar a discussão de sempre entre mãe e filha, eu dizia constantemente:
— Come os brócolos!
Tira o cabelo de dentro do prato!
Não te debruces sobre a mesa!
E ela, como sempre, a pinchar, resmungar e revirar os olhinhos.
De vez em quando até ameaçava deitar tudo borda fora.
O irmão apenas acompanhava a cena comendo calmamente e contendo-se para não cair no riso vez por outra.
Lá pelas tantas fartei-me do teatro, olhei firmemente para ela e, para lá de irritada, disse:
— Maria, se eu tiver que falar novamente para comeres como uma pessoa bem educada vais para o teu quarto de castigo!
E, não satisfeita, arrematei:
— Quero esse prato limpo já!
Ao que o Sebastian olha para mim com uma cara de espanto e, ao mesmo tempo, reprovação, como se eu tivesse cometido um pecado capital.
Antes que eu pudesse perceber o porquê da expressão do guri, a Maria levanta-se da mesa, mais rápido que um foguetão, e joga a comida toda no lixo!
— Pronto, mamã, não restou nem um grãozinho! Diz ela toda satisfeita.
Levanto-me “furibunda” da mesa ao que o irmão defende-a:
— Esperavas o que mãe?! Ela não entende. Mandaste-a limpar o prato e ela obedeceu, agora não é justo castigá-la!
Moral da história: crianças de 3 anos não entendem o sentido figurado e bons advogados já nascem feitos!
Texto: Maria Beck Pombo / Ilustração: Karoline Toneti Dieh