Voz da Póvoa
 
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Leve Como a Pena que Escreve

Leve Como a Pena que Escreve

Cultura | 8 Dezembro 2022

 

Maria Luiza Beck Pombo nasceu em 1981, na cidade de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil. Radicada em Portugal há quinze anos, ganhou espaço no jornal ‘A Voz da Póvoa’ em terras lusitanas e no ‘Jornal Diário Serrano’ na sua terra natal, assinando a coluna Turistando Lendas e Lugares, onde celebra a poesia simples da vida quotidiana e a complexidade da existência humana, com o seu linguajar “gaúcho-lusitano” e os relatos acerca das tradições de um Brasil ainda pouco conhecido pelas bandas de cá.

Reúne na obra “Leve – O que o tempo não leva”, editada pelas Edições Silêncio da Gaveta, algumas das crónicas publicadas ao longo dos dois últimos anos, com a promessa de proporcionar ao leitor um ambiente imersivo onde o culto aos sentimentos e a beleza da vida têm voz.

“Embora tivesse muita coisa escrita na gaveta comecei a editar apenas quando fui convidada a escrever uma crónica semanal no jornal A Voz da Póvoa. Depois, comecei a editar no Brasil. O gosto pela escrita vem de longe, aos 12 anos escrevi um romance, chama-se ‘Os Trigais’. É o possível numa criança dessa idade, que lia os contos da Disney e acreditava em príncipes encantados. Conta a estória de um menino que mora numa fazenda e se apaixona por uma menina que vai lá passar um tempo, mas no final vai cada um para o seu canto”, recorda Maria Beck Pombo.

Na sua escrita de prosa poética, revela que “há nos meus textos palavras gaúchas, naturais do Rio Grande do Sul. É uma língua própria, que mistura muito do castelhano, português, alemão, italiano ou o índio”. O Rio Grande do Sul é o celeiro da língua, da escrita de muitos autores do Brasil, como Jorge Amado, “é uma língua decorada, um linguarejar que vem do passado e se mantém, muito por ‘culpa’ das pessoas que não sabem ler. Agora, o gaúcho é meio bairrista, para onde a gente vai, faz questão de levar sempre um bocadinho da nossa tradição. Mesmo aqui, em Portugal, entre brasileiros nos identificamos imediatamente quando há um gaúcho ou um carioca, são sotaques muito particulares”. 

Maria Beck Pombo reconhece que as crónicas que escreve são autobiográficas: “Como eu me espelho na minha própria vida para escrever, se o dia está mau não adianta pensar em escrever uma coisa feliz. É importante entregar para o leitor aquilo que ele espera de mim. As minhas pequenas histórias. Escrever, para mim é uma terapia, é onde me revejo, me reinvento, me reconstruo. Sempre tem a ver com alguma coisa que vivi, passou por mim, muito embora as pessoas se possam identificar na minha escrita. Na vida, as coisas se repetem com outras pessoas, as mesmas situações. Depois, cada um encara ou enfrenta à sua maneira. A minha poesia é também autobiográfica”. 
 
Tinha um livro de poesia pronto a publicar, mas a opção foi outra, explica Maria Beck Pombo: “O ‘Leve’ acontece pelo facto de muita gente me conhecer através das crónicas. Acabei por levar um empurrãozinho de incentivo dos leitores. Então pensei que podia com este livro fazer a cama. A minha poesia é mais pesada, não é ‘Leve’ como este livro, é sofrida, uma forma de exorcizar a dor. Quando comecei a escrever crónicas para o jornal, havia nelas uma prosa poética porque não consegui desenvincilhar-me da poesia da vida. Se perdemos a poesia estamos aqui a fazer o quê?” 

Como se une um coração dividido entre dois países com famílias dos dois lados “é difícil, se eu pudesse passava seis meses cá e outros tantos lá. Quem sabe, um dia, mas a Europa é o meu lugar. Tenho um espírito muito antigo pelo Brasil, nunca me senti em casa lá. Amo a minha terra, o meu Estado, a minha família, mas sempre senti que é um país muito jovem, jovem no sentido de imaturo, preciso andar por essas árvores, por essas casas, preciso sentir essa energia, esse velho mundo”. 

O pulmão de uma Amazónia com dificuldades respiratórias, tem para Maria Beck Pombo uma razão: “O brasileiro não tem consciência de nada que não seja lutar pelo pão de cada dia. Ele está tão concentrado em tentar se manter vivo, manter a prole viva, que não consegue pensar. É por isso que acontece tanta coisa ruim no Brasil”. 
  
Chegar ao ‘Leve’ foi uma forma de traduzir a vida, “o livro não é tão leve assim, é a minha maneira de ver a vida. Por mais que doa, temos que agarrar a dor, abraçar a dor, chorar, rolar no chão com ela e depois levantar, Leve. Na verdade, eu sinto que tenho uma vida tão preenchida de coisas que dará os livros que eu quiser escrever. Não preciso pular para a ficção em momento nenhum porque na vida encontro todas as sensações, todas as páginas. Às vezes parece que nem cabe dentro de uma vida só”. 

Quanto ao livro, “é obvio que quero que as pessoas, comprem, que leiam, se não fosse assim não publicava, mas se nada disso acontecer é a conquista da minha vida. No fundo é um filho, porque a gente quando pare um filho não sabe o que ele vai ser. A gente ama ele porque está ali, mas se der para o torto a gente vai continuar amando ele. Este livro é de alguma forma uma realização”, conclui Maria Beck Pombo.
 
“Leve – O que o tempo não leva” será lançado às 17h00 do dia 10 de Dezembro na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.

Por: José Peixoto 

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