Voz da Póvoa
 
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Laudalino da Ponte Pacheco: o “Retratista da Maia”!

Laudalino da Ponte Pacheco: o “Retratista da Maia”!

Cultura | 6 Abril 2022

A Maia é uma freguesia da ilha de São Miguel com 1900 habitantes, está situada na costa norte, contando esta com dois pontos fortes para quem visita a maior ilha do arquipélago: a Fábrica de Chá da Gorreana e o Museu do Tabaco. Entretanto, foi aqui que viveu Laudalino da Ponte Pacheco, identificado por todos que o conheceram pelo “retratista da Maia”. E, perguntais vós, quem era o “retratista da Maia”? 

Laudalino da Ponte Pacheco trabalhou durante muitos anos na Fábrica de Tabaco da Maia e tinha, como atividade preferencial nas horas livres, o hábito de fotografar pessoas, fazer retratos dos acontecimentos da sua ilha. A sua longa história com a fotografia começa com uma máquina fotográfica que recebeu, oriunda do Canadá, decorria o ano de 1955. A partir daí, a pé ou de mota, calcorreava a ilha, aproveitando para registar todas as manifestações de vida: nascimentos, baptizados, casamentos, aniversários, velórios, matanças do porco e festas do Espírito Santo. Era também comum pedir às pessoas, sobretudo locais, para serem fotografados ou ainda “fintar” a vergonha com estratégias pouco convencionais. 

Desta feita, “Laudalino da Ponte Pacheco (1963-1975)” é o livro de fotografias que temos agora em mãos, editado pela Araucária Edições. O seu espólio anda à volta de 157 mil fotografias, por isso este conjunto compreende apenas doze anos do seu trabalho fotográfico. A Margarida Medeiros reuniu este "corpo fotográfico" dado que esteve quase dois anos a compilar estes doze anos de imagens. “Nestas imagens mistura-se, finalmente, a própria vivência quotidiana da pessoa que tira as fotografias: uma espécie de compulsão, de paixão pela captura e transformação em imagem de tudo o que interessa à sua volta. Como se a vida se processasse toda aí, nessas imagens, e o fotógrafo não pudesse separar as duas”, escreve a investigadora. Esta edição só foi possível graças à colaboração da Santa Casa do Divino Espírito Santo da Maia e à abnegação de Vânia Botelho, na conservação e catalogação dos negativos agora recuperados. Há claro, como não podia deixar de ser, o dedo e a perspicácia da editora: Blanca Martín Calero.
 
Após o lançamento desta obra, que tem sido divulgada por todo o lado, inclusive na diáspora, constata-se que o mundo de Laudalino da Ponte Pacheco parece não existir mais, ainda que o livro continue a convocar memórias, encontros e diálogos com o passado recente. A edição deste livro é sobretudo um gesto de delicadeza para com a comunidade, o enaltecimento do esforço e persistência de alguém que documentou uma época, um período histórico específico, fixando assim uma experiência existencial numa ilha atlântica. Lá dentro, para além das fotografias a preto e branco, há os textos de Maria Emanuel Albergaria e João Leal.

Texto: Fernando Nunes  Fotos: Laudalino da Ponte

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