Voz da Póvoa
 
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José Régio e a Política, na Fundação Gramaxo de Oliveira

José Régio e a Política, na Fundação Gramaxo de Oliveira

Cultura | 24 Novembro 2022

 

A Fundação Gramaxo de Oliveira, de Matosinhos, no seguimento das suas actividades de cariz cultural, apresentou uma interessante exposição subordinada ao tema «a Acção repressiva do Estado Novo na Vida e na Obra de José Régio, organizada pelo Centro de Estudos Regianos de Vila do Conde. Ao longo de diversos painéis, muito bem documentados, podia ser seguido o percurso biográfico do Poeta desde a juventude até à morte, com destaque para a sua intervenção cívica e a difícil relação com o regime insaturado a partir e 1926, nomeadamente com a intervenção da Censura.

A encerrar a exposição, decorreu no passado dia 18 de Novembro, nas instalações da Fundação, uma conferência proferida por António Ventura, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com o título «José Régio e a Política». Ao longo de uma hora e meia, o conferencista abordou a acção cívica de José Régio e as grandes linhas do seu pensamento, salientando que, se é certo que o Poeta escreveu alguns textos políticos, foi também autor de outros que, não o sendo explicitamente, são importantes para clarificar o pensamento regiano nesse plano, como os artigos da Seara Nova, do Diário Popular, de O Primeiro de Janeiro.

Passou depois em revista, cronologicamente, os diversos momentos em que Régio se manifestou politicamente, desde os anos vinte, em Coimbra, sempre num sentido republicano e democrático, com maior intensidade em 1945, no âmbito do Movimento de Unidade Democrática, e em 1949, nas eleições presidenciais em que apoiou a candidatura do general Norton de Matos. Embora, a partir desse momento, seja visível uma certa desilusão em relação à política activa, nunca deixou de manifestar a sua oposição do Estado Novo e de tomar posição, através da assinatura de documentos colectivos a favor da liberdade de imprensa, contra a repressão e em prol da amnistia aos presos políticos.

A derradeira tomada de posição teve lugar no ano da sua morte - 1969. Por ocasião das eleições para a Assembleia Nacional então celebradas, a oposição democrática foi às urnas dividida. Também no círculo do Porto surgiram de duas listas - uma da CDE, outra da CEUD. O Dr. António Macedo, candidato por aquele último agrupamento, de inspiração socialista, convidou o Poeta para participar na sessão de apresentação dos candidatos na capital nortenha, entre os quais se encontrava António José de Sousa Pereira. Régio recebeu a solicitação com alguma cautela, quis ler antecipadamente o manifesto eleitoral e acabou por aceitar.

No dia 8 de Outubro de 1969, compareceu na Associação dos Artistas e Homens de Letras do Porto, num gesto de claro apoio à candidatura socialista, «e não se dispensou de dizer algumas palavras introdutórias do significado do acto a que presidiu. Após a sessão, onde António Macedo teve um papel preponderante, ainda houve tempo para uma fuga até ao «Escondidinho», em companhia de seu primo António José, de Artur Santos Silva, de Alberto de Serpa e de Sophia de Mello Breyner. No dia seguinte, Régio sofreu um enfarte do miocárdio, de que viria a morrer a 22 de Dezembro desse mesmo ano de 1969.

Alvo de incompreensões e de silêncios, a sua heterodoxia não satisfez gregos nem troianos. Os homens livres são incómodos. José Régio foi um homem livre que procurou, dentro das imperfeições inerentes à natureza humana, ser fiel ao poema que escreveu, na juventude, e que incluiu no seu primeiro livro de poesia - «Cântico Negro».

Mesmo em momentos penosos não cedeu à facilidade. Soube sempre dizer - «não vou por aí».

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