Uma lua gigante e cor de mel insurgia-se contra o céu negro, salpicado de estrelas.
Parecia pronta a receber e acolher, em sua plenitude, o coração de ouro que partia ao seu encontro.
Pela face d’Ela uma lágrima escorria, congelando o trajecto que perfazia e maltratando aquele peito que não acreditava em despedidas, mas desejava que o reencontro esperasse muitas décadas, pois menos que isso era tempo pouco demais.
Uma guerra desleal a que Ele enfrentara pelo Caminho, se é que alguma guerra pudesse ser leal de alguma forma…
Encontrava agora o descanso merecido, para o desespero ingenuamente egoísta dos que mais o amavam.
Ele, que sempre estivera lá para Ela, nos seus piores e melhores momentos.
A confortar ou sacudir para a vida com a sinceridade que é permitida apenas aos Amigos de verdade.
Ele, que proferia as mais tristes e desoladoras Verdades com serenidade suficiente capaz de fazê-la crer que a dor é passageira e que haveria sempre um sol a brilhar depois de uma noite nublada.
Talvez caminhasse agora sobre o Vale da Morte com a mesma altivez que a instigara a caminhar entre os espinhos até encontrar rosas que bastassem para curar a sua alma despedaçada.
Talvez observasse com alguma consternação, por uma frincha entre as dimensões, a família e os amigos que choravam a ausência d’Ele.
Quiçá até quisesse ceder ao ímpeto de gritar, quebrando toda e qualquer lei divina, que está tudo bem! Que o sofrimento passou e o céu é mais azul do lado de lá.
Ah, e Ela o escutaria! Quem sabe até o escuta!
A voz a gritar em seus ouvidos chamando-a para a vida que não aceita o retrocesso…
A incentivar o enterro do passado, que castra e magoa, e a abertura do espírito para o novo, pois havia todo um Caminho a percorrer até que a ampulheta invisível derrubasse o último grão de areia.
Conservamos sempre perto aqueles que levamos na memória!
Bom regresso a Casa, grande amigo!
Maria Luiza Alba Pombo