A Fundação Gramaxo de Oliveira com sede em Matosinhos homenageou no domingo, 21 de Julho, Nuno Simões, licenciado em Direito, foi político e publicista.
O acto solene “Música nos Jardins” foi entregue à criatividade do Quarteto de Cordas Portuscale que interpretou Beethoven – Opus 95 e Dvorák – Quarteto Americano. O Diretor Luthier Miguel Mateus fez a apresentação do Quarteto. Por sua vez, o Prof. José Luís Postiga (Professor na Universidade de Aveiro) falou sobre as músicas e o seu enquadramento na época.
Na abertura da sessão, o Dr. Afonso de Barros Queiroz, presidente da Fundação Gramaxo de Oliveira, deu as boas vindas a todos e disse estar particularmente honrado por ter entre os presentes:
- O Senhor Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Matosinhos, Dr. Luís Branco;
- A Dra. Arminda Esmeralda Ferreira, escritora e estudiosa da vida e obra do Dr. Nuno Simões, em representação da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão;
- A Dra. Nassalete Miranda, jornalista fundadora e diretora do jornal “As Artes entre as Letras”;
- O Eng.º Vergílio Folhadela, natural de Vila Nova de Famalicão, administrador de empresas que foi um muito prestigiado Presidente da Associação Comercial do Porto.
-A Dra. Inês Bento Amorim, filha do Barão de Rio Ave, grande amigo de Nuno Simões;
-A Dra. Vera de Almeida Ribeiro, filha do nosso saudoso Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. Ângelo de Almeida Ribeiro;
- O Dr. Domingos Antunes de Azevedo, médico e membro da Liga dos Amigos do Hospital Pedro Hispano de Matosinhos;
- A Dra. Manuela Garcia, Presidente da Associação da Escola do Adro, Matosinhos;
- Filhas do Dr. Camilo Freitas, amigo de Nuno Simões (Vila Nova de Famalicão);
- O Eng.º Vieira de Castro, industrial, natural de Vila Nova de Famalicão;”
Advogado, político e publicista, Nuno Simões nasceu a 30 de janeiro de 1894 em Calendário, freguesia de Vila Nova de Famalicão. Foi um democrata republicano até ao fim da vida. Deixou o seu nome associado a várias instituições de solidariedade social, que ajudou a criar.
Em 1935, quando desempenhava o cargo de Secretário-Geral do Supremo Tribunal Administrativo, foi afastado compulsivamente de todas as funções no Estado, apenas por perfilhar opiniões políticas divergentes, e sem que lhe fosse imputada qualquer infração disciplinar ou menor dedicação ou competência no exercício dessas funções.
Nuno Simões fez parte de um afastamento coletivo de 33 funcionários públicos, demitidos das funções que exerciam, em 14 de Maio de 1935, ao abrigo do DECRETO-LEI Nº25:317 assinado por Carmona e Salazar, (“Diário do Governo”, I Série, nº 108, de 13 de Maio de 1935), nos seguintes termos: “Os funcionários ou empregados, civis ou militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política, ou não deem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado, são “aposentados ou reformados, se a isso tiverem direito, ou demitidos em caso contrário”, não podendo ser “nomeados ou contratados para quaisquer cargos públicos nem admitidos a concurso para provimento neles”.
Fez os estudos secundários no Liceu de Guimarães (1905) e no Liceu Rodrigues e Freitas, do Porto (1908).
Nuno Simões cresceu e estudou num meio intelectual intenso e de progresso. Nos seus tempos do liceu, em colaboração com Veiga Pires e Arthur Cupertino de Miranda, fundou A Lyra, pequeno jornal literário. Naquela época, Os Intransigentes de 1907 lançaram os movimentos revolucionários estudantis em que hoje participam intelectuais de todo o mundo.
Matriculou-se na Universidade de Coimbra, concluindo o curso de Direito, em 17 de Outubro de 1913. Dos tempos de estudante datam as primeiras incursões literárias, com poemas publicados no jornal O Regenerador (Famalicão, 1908), em A Lira e na revista A Rajada, de Coimbra. Em 1911, começou a colaborar em O Primeiro de Janeiro. Em 1917, com João de Barros e Graça Aranha, dirigiu a revista Atlântida. Fundou em 1920 o diário A Pátria, em Lisboa, que dirigiu até 1924. Colaborou em diversos jornais e revistas nacionais e estrangeiros: O Comércio do Porto, Jornal do Comércio, República, Diário de Notícias (Lisboa), Notícias (Lourenço Marques), A Ilha (Ponta Delgada), O Observador Económico e Financeiro (Rio de Janeiro) e Diários Associados, do Brasil. Foi colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Concluída a formatura, exerceu a advocacia durante dois anos em Vila Nova de Famalicão e no Porto. Em 1913, foi nomeado subdelegado da República em Famalicão, e governador civil de Vila Real, de 24 de Maio de 1915 a 14 de Junho de 1917. Neste ano, foi nomeado secretário-geral do Supremo Tribunal Administrativo. Eleito deputado, nas listas do Partido Republicano Português, sempre pelo círculo de Vila Real, em 1919, 1922 e 1925, foi ministro por três vezes (1921, 1924 e 1925), sobraçando sempre a pasta do Comércio e Comunicações: de 16 de Dezembro de 1921 a 6 de Fevereiro de 1922 (governo de Cunha Leal); de 28 de Fevereiro a 23 de Junho de 1924 (governo de Álvaro de Castro); 1 de Agosto a 10 de Dezembro de 1925 (governo de Domingos Leite Pereira). A saída deste último governo deveu-se ao escândalo do caso Alves dos Reis, em que o seu nome foi envolvido. Detido a 10 de Junho de 1926 e libertado em Agosto, só foi ilibado em 1929, pelo Tribunal da Relação de Lisboa. Retomou as funções no Supremo Tribunal Administrativo até ser demitido pelo Estado Novo, em 1935. Participou, a partir de então, na criação e desenvolvimento de diversas indústrias nacionais, exercendo funções de orientador e consultor económico de várias empresas. Retirado da política activa, surgiu ligado à oposição ao Estado Novo, nomeadamente no Movimento de Unidade Democrática, na tentativa de golpe de Abril de 1947, no apoio a Quintão Meireles, na Comissão Promotora do Voto, nas eleições de 1957 e nas presidenciais do ano seguinte. Publicou os seguintes livros: Águas Mortas (crónicas), 1915; Gente Risonha, 1916; As Nossas Relações Económicas com a Inglaterra, 1931; Os Vinhos do Porto e a Defesa Internacional da sua Marca, 1932; O Ultramar como fornecedor e cliente das indústrias metropolitanas, 1933; O Brasil e a emigração portuguesa, 1934; Vinhos da Madeira, 1935; Pescarias e Conservas de Peixe, 1936; Os Portugueses no Mundo, 1940. Cultivou temas económicos, coloniais e brasileiros ou luso-brasileiros, de onde se destacam as obras O Conceito e a evolução do luso-brasilismo (1945), O estado actual das relações luso-brasileiras (1950) e Actualidade e permanência do luso-brasilismo (1953). Era sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras (1959), tendo-se deslocado várias vezes ao Brasil, onde proferiu conferências. Doou a biblioteca particular à Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão em 1968, encontrando-se atualmente instalada no Fundo Local da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco. Foi agraciado, no Brasil, com a Ordem do Cruzeiro do Sul e a Ordem do Rio Branco. Sócio de várias instituições culturais portuguesas e estrangeiras, foi eleito, em 1953, sócio honorário do Instituto de Coimbra. Em 1954, comemorando o 60. ° aniversário, foi-lhe prestada uma homenagem nacional. Recebeu o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito (1968) e, a título póstumo, o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique (1990).
Morreu em Lisboa, a 27 de julho de 1975.
A generosidade sempre fez parte da vida do Dr. Nuno Simões e um dos seus últimos actos de verdadeira solidariedade e de preocupação com os menos favorecidos, foi o de entregar verbas “generosas” em Famalicão, Guimarães e Vila Real que custeassem três instituições de carácter social, uma delas o Infantário Nuno Simões em Guimarães e o Centro Social e Cultural Dr. Nuno Simões, em Vila Nova de Famalicão.
Parlamentares e Ministros da I República, p. 410; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Volume XXIXI, pp. 60 e 61; Deputados, Procuradores, Senadores Ministros naturais do Distrito de Braga, pp. 50 e 51; José Luís Monteiro, «Nuno Simões (1894-1975), Dicionário de História da I República e do Republicanismo, Volume III, pp. 857 e 858; Arminda Esmeralda de Araújo Ferreira, O Luso-brasileirismo na Perspectiva de Nuno Simões. Esboço de um estudo de Natureza Biográfica, Famalicão, Quasi, 2005.