É de um tempo antes, uma intenção depois, mas “Fronteiras em Desertos” peça desenhada a partir da obra “O Sonho de África” de Yolanda Dorado, foi um interlúdio à Trilogia de Prósfygas. O teatro nem sempre vai mais longe que a representação, mas desta vez iluminou um mar de náufragos à procura de ressuscitar da miséria, da fome e da guerra, numa Europa de ilusório futuro.
Recordo que este espectáculo foi no palco da sede do Varazim, Espaço d’Mente, comandado por muito silêncio, um convite à reflexão. Há palavras que saídas da ausência se transformam em ecos gravados na montanha do pensamento. O tempo é outro mas, a fuga, a procura, a morte encontrada no mediterrânio continua. É uma outra pandemia que ninguém quer ter confinada.
Estávamos ainda em 2015, estamos ainda em 2015, parados, apenas o número de refugiados mortos e vivos aumentou nas “Fronteiras em Desertos”.
É por isso que o teatro foi no passado, mais distante, a invenção do amor, sem perceber que acabava de inquietar e desassossegar o palco de toda a humanidade, pela vontade de abolir todas as “Fronteiras em Desertos”.
Há vidas representadas que, por ainda serem desertas, precisam voltar a abanar todo o nosso egoísmo.
fica aqui a sinopse, quem sabe, para repetir:
Paz!
A Imensidão do deserto perante os nossos olhos…
Uma mulher árabe faz as suas preces.
Uma mulher europeia caminha.
Num certo lugar, a uma certa hora, no seu deserto, duas mulheres encontram-se.
A partir do universo feminino de cada uma das culturas: árabe e europeia e nos contrastes inerentes quando colocamos em fronteira cada uma dessas feminilidades, fala-se de mulheres para falar de sonhos, de fronteiras que separam mas que também permitem que dois desertos se toquem.
Encenação: Eduardo Faria; interpretação: Joana Soares e Júlia Rodrigues; criação original e música ao vivo: Paulo Lemos; cenografia e figurinos: Joana Soares; desenho de luz: Eduardo Faria e José Raposo; Produção Executiva: Joana de Sousa
