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Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim

Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim

Cultura | 23 Abril 2021

Quando ouvimos música estamos a renovar o antigo, porque o que ainda nos surpreende vem sempre do passado. É desta riqueza cultural que construímos o futuro. Foi talvez a pensar nisso que em 1979, sob proposta do grande pianista Sequeira e Costa, foi criado o Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim – Costa Verde, pela empresa SOPETE, S. A. Mais tarde, a partir de 1994, a Câmara Municipal viria a assumir e a partilhar, com a empresa fundadora, as responsabilidades de organização e promoção. Desde 2003, esse papel está a cargo da Associação Pró-Música da Póvoa de Varzim. Em 2018, Raúl da Costa assumiu a direcção artística do Festival.

“Normalmente, acontece em Julho, mas ainda não temos datas. Ao nível da programação, em número de concertos prometemos a maior edição que já aconteceu neste Festival. Vamos voltar a ter MasterClass. Há seis concertos que vão acontecer este ano, que não se realizaram no ano passado devido à pandemia. Posso revelar que decorrerá uma pequena participação minha, que não houve no ano passado, todavia perante a grande imagem do Festival, será sempre pequena. Continuamos a ter músicos da terra como convidados e jovens intérpretes portugueses, mas não vou revelar nomes. Como habitualmente, as sensibilidades vão da música antiga à contemporânea”.

Uma das novidades este ano é ‘Prémios Jovens Interpretes’, revela Raúl da Costa: “Sendo eu um jovem intérprete, conheço as dificuldades que todos temos no início de uma carreira, com a necessidade de tocar e ganhar experiência de palco. Para os que ainda não têm o nome consolidado, é importante estar activo, há sempre menos concertos e a pandemia veio encurtar as possibilidades de jovens músicos aparecerem em qualquer sítio. Esta realidade, levou-nos a abrir este concurso para jovens até aos 28 anos, não só na música clássica, mas também contemporânea ou Jazz. Serão seleccionadas quatro intérpretes, a solo, duo ou trio. Teremos dois concertos especiais no mesmo dia, com cerca de 35 minutos cada um. Para além da gravação, terão também um cachet razoável, ao nível de um profissional. Acho que é importante o Festival mostrar que sabe o momento que estamos a passar e a crise que atinge os artistas. Este é mais um dos projectos que encaixa na dimensão deste Festival”.

Tal como no ano passado o FIMPV volta a transmitir espectáculos em streaming: “Foi uma novidade que veio para ficar e partilhar. Ainda não decidimos, mas este ano o streaming deverá acontecer muito provavelmente no Facebook ou no Youtube. Queremos chegar, cada vez, a mais gente e o Facebook é uma boa ferramenta. Queremos que seja uma festa da música. Posteriormente, cada concerto acordado com os artistas ficará disponível por um certo tempo. A RTP virá também gravar alguns concertos, assim como a Antena 2 que mais uma vez vem gravar e transmitir concertos. Temos solidificado esta parceria ao longo dos anos, assim como as parcerias com os Prémios Jovens Músicos, da Antena 2 – RTP”.

Quanto à presença de público, o Director Artístico antevê entradas limitadas, como no ano passado: “Iremos respeitar as directivas da Direcção-Geral da Saúde e as exigências que poderão acontecer em termos de vacinação. Poderá também haver testes prévios e talvez as salas ou as igrejas possam ter mais público. Neste momento, é difícil prever, aguardamos com serenidade e iremos seguir as directivas que vierem também da Direcção Geral das Artes. Vamos fazer vários concertos, com os preços reduzidos e ainda sem convites, partindo do princípio que a lotação será reduzida”.

Estamos a viver uma época de concertos transmitidos sem público: “Sabemos que é um momento especial da história que estamos a passar. Não seria bom da nossa parte não estar ao mais alto nível. Sempre me senti um privilegiado e cada oportunidade que surge para tocar eu não enjeito. Recentemente, estive em Paris, exactamente para tocar e gravar numa sala vazia. Depois, tudo se torna mais complicado em termos de viagem. Tudo tem que ser muito bem planeado. No entanto, temos que reconhecer que a presença de público influencia positivamente um concerto. Somos todos elementos do mesmo corpo. O músico em si é aquela pessoa que toca o coração e este órgão não funciona se o resto não estiver lá. Aí, encontramos o instrumento, a acústica da sala e o público. Depois, há um silêncio penetrante, um silêncio perfeito para expor na tela uma pintura. É esse silêncio que a Póvoa tem e as gravações ficam sempre óptimas. Ainda recentemente foi escolhida a gravação do concerto de música antiga, de abertura do Festival no ano passado, com os solistas Raquel Camarinha e Andreas Scholl”.

Para Raúl da Costa são os músicos reconhecidos mundialmente que elogiam o Festival Internacional de Música da Póvoa: “Sendo numa pequena terra é uma surpresa para todos os artistas. Aprendi com o professor João Marques, a maneira como se trata e como se vê a música. O público na Póvoa recebe os músicos com educação e muita seriedade, porque reconhece a qualidade do Festival. Mesmo hoje, olha-se para a programação e há coisas que se mantêm porque têm futuro. No último ano, foi diferente, mas é preciso acreditar mais do que nunca para fazer um Festival deste género. É esta forma de ser do nosso Festival que faz com que músicos que tocam nas melhores salas do mundo, tenham esta alegria de vir à Póvoa. Depois, os concertos que aconteceram nas nossas igrejas são comparáveis à acústica das grandes salas. No festival milionário de Salzburgo há pessoas a ouvir falar do FIMPV, numa pequena terra à beira mar. As gravações que são feitas por cá são uma espécie de ilha da beleza. O nosso público sempre tocou os artistas e isso ajuda a conceber concertos memoráveis. Somos um festival muito respeitado”.

Dois anos consecutivos, com um certo distanciamento, sabendo que a música é por si só efectiva: “O ano passado foi muito gratificante. Estávamos todos preocupados, porque trazer mais de 70 músicos, muitos vindos de outros países, em tempos de pandemia é algo que mexe e preocupa. Mas, as pessoas estavam a precisar de ouvir e de estar consigo próprias. O sentimento, as emoções não têm distanciamento quando se trata de ouvir música e ver os intérpretes. É essa aproximação que quero neste Festival. Claro que quero, com a maior brevidade possível, fazer algo em grande e com as salas cheias de público. Imagino o Póvoa Arena, que vai ser construído, com milhares de pessoas que se podem juntar aí num concerto, a viver algo único”.

Com todas as notícias, todos os distanciamentos, ficar em casa, tudo aquilo que se vai lendo, coisas verdadeiras, coisas não verdadeiras, para Raúl da Costa, “temos que nos encontrar e procurar esta beleza que nos dá força para continuar e fazer algo bom para os outros. Acredito que a música dá-nos a oportunidade para nos curarmos da solidão, para além de levantar todas as questões culturais e artísticas que fazem algo andar para a frente. O tempo passa rápido e no entanto, estamos há mais de um ano nesta pandemia. Os danos e as consequências que isto tem em cada um de nós são diferentes. Temos que ser nós a lutar para que daqui a uns anos se fale deste momento do festival como algo feliz para ser contado. É para isso que estamos cá”.

Por: José Peixoto

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