Não sei se os olhos e o coração de quem se habituou a ver a senhora nas novelas sabe disto: Eunice Muñoz era muito mais que uma actriz, era a representação em pessoa, quer fosse no teatro quer na dignidade que sempre semeou pela vida.
Eunice deixou-nos hoje, aos 93 anos, depois de percorrer os palcos mais de 80 anos a representar emoções, vidas. Eunice deixou-nos a mais pura das encenações, uma vida inteira para a recordar, e no coração de quem ama o teatro o mais demorado aplauso.
Há palavras que são mais capazes de nos dizer da pessoa. Sophia de Mello Breyner Andresen explica e simplifica neste poema:
O mar dos meus olhos
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma