Voz da Póvoa
 
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Entrar na “Casa e Logradouro” pela Voz do Poeta

Entrar na “Casa e Logradouro” pela Voz do Poeta

Cultura | 3 Janeiro 2024

 

A Cooperativa Cultural A Filantrópica voltou a receber a apresentação de um livro de Aurelino Costa. A primeira vez foi, a 3 de Abril de 1992, com a apresentação de “Poesia Solar”. Como o tempo passa.

Na última sexta-feira antes da Ceia de Natal, a sala da Galeria de Artes e Letras, onde se encontrava uma exposição colectiva de vários artistas plásticos a homenagear Paula Rego, encheu para ouvir, Aurelino Costa a revelar a fonte da memória onde bebeu as palavras que edificaram a poesia da “Casa e Logradouro”. Folheando depois alguns poemas, ofereceu o bater do coração ao ritmo da voz de cada verso seu. Na rubrica "A poesia entre nós" só pode ser sentida, tal como ficou demonstrado no dizer poético de Fernanda Soares, quando leu dois poemas da “Casa e Logradouro”. 

“Estou a acordar com os personagens que lia quando era ainda muito jovem”. O belo de tudo isto “é acordar encantado”, revelou Aurelino enquanto se expunha como autor que nasceu com uma certa “Alexandria no corpo”. Todos sabemos que é a mão que escreve, “mas é na cabeça que tudo funciona”.

Desistir ou desarmar não é o caminho do poeta que reconhece “a função existencial, a primeira luta, a primeira iluminação, o primeiro amor”, que nos traduz todos os outros amores partilhados. “O mesmo se passa com as outras artes como a pintura, a escultura, o bailado, a música, todas têm uma trajectória de vida e uma identidade criativa, que nos identifica como autores”, concluiu Aurelino Costa. 
 
Não há automatismo na linguagem quando a escrita vem de dentro de um passado verdadeiro, mastigado, engolido e vivido pelo autor. “Julgo que o poema vai crescendo tanto quanto nos encerra no seu exterior. Desabitando aquela humanidade, deixando de saber exercer tão grande esplendor humano, somos testemunhas de como fomos, mas imprestáveis para o continuar a ser. Tudo nestes versos é de ouro. Um ouro que nos acaba. A menos que a poesia, por tão grande utopia, nos salve um dia”, escreveu o romancista e poeta Valter Hugo Mãe.

A poesia mudou-se da voz para o piano de Raúl da Costa que nos ofertou “uma enorme metáfora musical” encontrada numa ideia sua e numa “ninhada de compositores russos”, entre eles Tchaikovsky e Rachmaninov. Creio que não haverá qualquer exagero nestas palavras. Foi uma noite de privilégio.  

Por:José Peixoto 

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