De Portugal eu trouxe tudo o que cabia em uma vida:
O cheiro das sardinhas assadas, ao meio fio, no São Pedro, das castanhas no São Martinho, do mar a todo o momento…
Trouxe o gosto do vinho verde e do maduro, da Sagres, da Superbok e da Imperial, eventualmente. O sabor do polvo a lagareiro e do cozido à portuguesa, o costume de usar menos sal e mais tempero.
Trouxe a magia da Cividade Terroso, da floresta de Lamas de Mouro e da floresta de Sintra, onde costumava andar, descalça, dentre o Povo das Árvores, nas madrugadas amenas de junho.
Trouxe conchas e pedras das praias de água doce e salgada, a pele arrepiada pela nortada, a sensação da areia da praia sob os pés.
Trouxe Tiago Bettencourt, Ana Moura, Marisa, Diabo na Cruz, Madredeus e outros tantos que encantam, até hoje, os meus ouvidos.
As advertências sobre o mar da Póvoa, os dentes de leite do meu filho…
De Portugal eu trouxe tudo o que jamais caberia na mala:
Belém e suas belezas, as ondas gigantes de Nazaré, o Mercado Medieval de Óbidos, o Mosteiro de Leça do Balio onde, por um dia, fui rainha.
A ribeira do Porto, os monumentos e castelos, as pequenas e bucólicas aldeias de xisto, o Gerês…
Frutos de terras lusitanas, trouxe comigo uma filha e dois amores: o amor pelo marinheiro que impediu que eu me afogasse dentro de mim mesma, e o amor-próprio, que havia perdido ainda na infância.
De Portugal eu trouxe a paz que plantei no meu quintal, do outro lado do Atlântico, na minha terra natal!
Maria Luiza Alba Pombo, escritora
