Voz da Póvoa
 
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Dois barcos

Dois barcos

Cultura | 23 Agosto 2023

 

Não quero te macular ao te guardar entre os outros, marinheiro…

Os teus pés pisaram e pisarão os céus e o inferno ao meu lado!

Assolaram as maldições e as angústias, quebraram feitiços e me devolveram os sonhos que julguei eternamente desfeitos.

Entreguei-te as mais doces cantigas, para que os teus tímpanos esquecessem os ruídos do dia-a-dia.

A salmoura para as mãos calejadas e a água para a garganta seca!

Guardei presentes em meu ventre, até que estivessem prontos para alegrar os nossos dias e te entreguei a mais abençoada de todas as criaturas: um misto de âncora e onda, de brisa e tempestade, um oceano de amor profundo que só poderia ser fruto da nossa união.

Estampei sorrisos nos teus lábios e pintei lágrimas no teu olhar, de alegria e de tristeza, verdade seja dita, mas também bordei com as mais coloridas fantasias o travesseiro em que repousas, para que jamais te esqueças que trago a magia na alma e no coração.

Cobri o teu corpo com carinho quando a madrugada se fez gelada e te prometi aconchego eterno em meu abraço…

E quando chegou a hora, meu príncipe encantado, concedi-te a resposta afirmativa e sonora, para que o mundo se pudesse render ao nosso amor!

Para que o Universo soubesse que ele existe e é verdadeiro, para que toda a humanidade creia que os contos de fadas podem ser reais e que a felicidade é palpável, mas que também é imperfeita, como as árvores que se despem das folhas no inverno, como a lua que míngua e que cresce até tornar-se cheia, como as vagas que vão e vêm banhando as areias de um continente ao outro.

A felicidade está no percorrer do Caminho que nos leva ao nosso Destino, e no meu tu não estás, meu homem que sabe a mar, simplesmente O és!

Maria Beck Pombo 

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