“ Pai, cheguei!”
Alertava a mulher de quase meia década ao adentrar, despacito, a casa.
Com um meio sorriso esboçado na face, lembrava das madrugadas remotas em que pisava leve sobre o antigo assoalho de madeira, evitando acordar os pais, hoje, em pés de lã, protege o sono da filha.
Tantas estações passaram, tantas luas cruzaram o céu até que Ela retornasse ao princípio de tudo, refazendo os passos sem repeti-los, desfrutando do doce e preterindo o amargo, escolhendo o caminho com cuidado e, com ainda mais diligência, as companhias.
Agora aguarda com ansiedade as próximas dezasseis luas que precedem a chegada daquele que encheu o seu peito de tanto amor, que até parece impossível de crer.
Mirando a cria a dormir pacificamente sobre a cama do quarto que antes pertencera a Ela, viu a vida passar em retrospectiva e percebeu o quanto fora necessário perder-se, para encontra-se de facto.
É que tudo tem o seu ciclo e não é possível colher o fruto sem plantar a semente, tampouco aproveitar a primavera sem cruzar o estéril inverno…
E Ela sabe que valeu a pena cada momento vivido durante essa caminhada de duração indefinida!
Para quem trabalhou insistentemente durante mais de uma década, dezasseis luas hão de passar em um piscar de olhos!
Nem o Tempo pode negar o que o Universo oferece por direito!
Maria Luiza Alba Pombo, escritora