A Biblioteca Municipal Rocha Peixoto acolheu no dia 30 de Outubro, a apresentação do mais recente livro do psiquiatra e escritor Daniel Sampaio, “Covid-19 – Relato de um Sobrevivente” e contou com a presença na mesa, de Andrea Silva Vereadora da Coesão Social.
Foi na primeira pessoa que nasceu um livro que relata a experiência vivida pelo próprio na sequência da infecção com coronavírus. As páginas do livro tornaram-se diário de um sobrevivente que foi internado a 28 de Janeiro deste ano e transferido para os cuidados intensivos. Daniel Sampaio reconhecendo as deficiências, enaltece a importância do Serviço Nacional de Saúde, “temos que lutar para o robustecer”. Mas também a importância do apoio da família e dos amigos para ultrapassar a doença, “suspeitava que tinha muitos amigos e confirmei que era verdade”.
O autor revela que o livro foi escrito com dupla finalidade: “Chamar a atenção para a doença, o vírus não está vencido nem houve nenhum dia da libertação. O vírus é um ser que só se multiplica se entrar no nosso organismo, caso contrário morre. A ciência não venceu a doença mas deu passos seguros no sentido de a combater. A vacinação não é suficiente mas é eficaz. No entanto, vai continuar a haver gente a adoecer. Precisamos continuar a lavar as mãos e manter algum distanciamento físico, não distanciamento social. Podemos estar distantes mas comunicáveis. Precisamos estar junto da nossa família, dos nossos amigos. Depois, temos muito poucos testemunhos dos doentes e é também preciso continuar a combater a mentira e a negação”.
Daniel Sampaio testemunhou momentos do internamento: “Sentimo-nos amparados, mas sozinhos porque não podemos comunicar com ninguém, não há telemóveis. A experiência de isolamento é bastante difícil. Assusta pensar que podemos morrer e a ideia da morte está muito presente quando entramos nos cuidados intensivos. Depois há um barulho insuportável das máquinas dos ventiladores. O pessoal médico e de enfermagem são de uma dedicação exemplar, mas não posso deixar de enaltecer o trabalho do pessoal auxiliar que ganha muito mal e é considerado o menos importante na cadeia hierárquica dos profissionais de saúde, porém são fundamentais na doença Covid porque têm que fazer tudo. Além de lavar os doentes, virá-los, toda a higiene necessária é feita como de um dever se tratasse”.
O psiquiatra referiu que, “escrever um testemunho podia ser importante, mas este livro seria muito monótono se não tivesse havido uns períodos de delírio vivido por mim e que ajudaram a preencher o livro e torná-lo mais literário”. E acrescenta: “Sou uma pessoa que sobreviveu e que a ciência permitiu que fosse bem tratada. Esta experiência pessoal foi uma experiencia de superação, de apelo às minhas forças interiores, um apelo ao auto-conhecimento para sobreviver e caminhar”.
Quando passamos pela dor ficamos mais poetas “sem dúvida. Aliás quem ler o livro vai notar a quantidade de poetas que me lembro. Vinícius de Moraes, muitos fragmentos de Camões, a poesia acompanhou-me sempre nesta viagem”.
