Eis o Tempo em que todas as Bruxas se encontram… pensava ela enquanto contemplava o vento a beijar as copas das árvores e espalhar as folhas amarelo-ouro sobre a relva verde e fofa do bosque, quase encantado, que se estendia até onde a vista alcançava.
Uma lua cheia em gêmeos prometia as respostas que ela esperava às tantas indagações que gritavam dentro d’alma e consumiam o seu coração provocando tanta dor quanto a de parir um enxame de vespas!
Ah, se aqueles que a observam a entregar flores ao mundo pudessem enxergar os fantasmas que ela carrega consigo, talvez não se surpreendessem ao vê-la regar com soro os canteiros por onde passa.
Mas nem só de tristeza e despedida se faz o Caminho quando se pode contar com ouvidos que nos acolham os lamentos e lábios que se quedem cerrados, pois, na maioria das vezes, tudo o que um ser atormentado necessita é poder sangrar a dor do coração para os olhos de modo a apaziguar o espírito.
E essa graça ela conquistara, muy despacio, investindo todo o seu carinho e respeito na mais bela das roseiras, que hoje floresce perenemente.
Entre Goretes e Eurídices a vida se estende num poema e a abençoa com o dom de transformar o sofrimento em alento, lágrima em rima, obstáculos em versos que impressos podem ser rasgados e transmutados em confetes!
Eis o Tempo em que todas as Bruxas se encontram e iluminam o caminho umas das outras, levantando o véu para revelar a magia existente em cada coisa no mundo, cada qual no seu lugar e todas no lugar certo, ainda que, por vezes, não consigamos entender o porquê.
Para encontrar o nosso espaço basta seguir o sol, ou a lua, não nos deixemos ofuscar pelo brilho dos pirilampos!
Maria Beck Pombo