Voz da Póvoa
 
...

Correntes d’Escritas na Ortopóvoa com “O Retrato das palavras”

Correntes d’Escritas na Ortopóvoa com “O Retrato das palavras”

Cultura | 7 Março 2024

 

A arte saída das mãos de um criador para uma tela, encontrada na pedra a escultura desejada, a imagem retratada no papel, precisa de um espaço expositivo para ganhar poiso, conhecer e ser reconhecida por outros olhares, gerar outras emoções.

A Galeria d´Arte Ortopóvoa é um desses lugares mágicos onde a quietude ganha forma e vida para lá do objecto de arte que o artista criou. A viagem pelos caminhos da reflexão, da humana capacidade de ir além do erguer do corpo para a verticalidade, chegou à trigésima primeira exposição com “O retrato das palavras”, uma mostra de pintura inaugurada a 22 de Fevereiro, associada à 25ª edição do Correntes d’Escritas, com a assinatura de Jorge Curval.

“Não é uma data qualquer. Significa que vingou, que conquistou a população, não só a da Póvoa, mas também do resto do país e até internacionalmente. Os 25 anos do Correntes d´Escritas são um orgulho para as pessoas que trabalham e vivem nesta comunidade mas também para a Ortopóvoa”, sublinha Afonso Pinhão Ferreira, Administrador da clínica Ortopóvoa.

Sobre o criador convidado, “Jorge Curval, artista que muito aprecio e que tem demonstrado uma criatividade ímpar, é altamente inventivo, não na pintura e na escultura, mas sobretudo nos suportes que utiliza não sendo convencional em aspecto nenhum. Nem no que faz, nem no que cria, nem nos suportes que utiliza”.

Afonso Pinhão Ferreira explica uma das facetas do artista: “Quem aqui vier é capaz de pensar que o Jorge Curval é um retratista, mas não. O que ele faz é retratos de retratos. Ou seja representação de um retrato na forma que ele entende”.

Quanto às sete dezenas de obras, que desta vez ocuparam a galeria, consultórios, corredores e salas da clínica, “sempre quis que para além da Galeria a própria clínica fosse de um artista durante dois ou três meses e desta vez conseguimos. O Jorge Curval tem um espólio grande e conseguiu trazer bastantes obras, ao ponto de mudar todo o visual da clínica”. E acrescenta que há várias formas de fazer marketing, “gosto de arte, patrocino a arte, ajudo os artistas, ajudo os designers a fazer os catálogos e uma série de pessoas que roda à volta disto. Ao mesmo tempo, proporciono uma possibilidade de o público poder contactar mais de perto com a arte e com a própria empresa”.

Por sua vez, Jorge Curval reconhece que a revisitação da sua obra na Galeria D´Arte da Ortopóvoa “é uma mais-valia para o seu trabalho e para as Correntes d´Escritas: As palavras estão espalhadas em todos os meus quadros e sempre foram o fio condutor no meu trabalho. Na minha investigação como artista, uso e leio sempre o livro e, portanto, para mim é um orgulho estar aqui a participar”.

O fascínio da luz elemento inseparável do trabalho que se completa ou se interroga nas palavras que “tanto salvam como matam, as palavras são muito importantes. Em alguns filmes que vi no passado, reflecti muito sobre as palavras que têm a força de decisão e de transmissão das civilizações, entre passado e presente. Nós reconhecemos o passado através da leitura de escritos de tempos idos, do nosso tempo. O meu próprio trabalho avança há muitos anos com as palavras e, neste momento, ainda mais. Esta é a primeira exposição que faço onde assumo a palavra como momento presente. Sem as palavras o retrato não faria sentido”.

A Curadora, Isabel Patim, elogia em primeiro lugar a “equipa fantástica e o privilégio que é trabalhar nesta clínica e de ter esta possibilidade de abrir a clínica, seguindo o conceito de arte, a todas as pessoas. O outro aspecto que tem ocupado a minha reflexão, mesmo durante a montagem com a equipa, é que para além de as pessoas poderem visitar a clínica e os locais onde são efectuados actos médicos de cuidados de saúde e higiene dental, é o que o Curval nos apresenta. Várias pessoas já pintaram os escritores, mas o Curval tem a sua linguagem plástica, naturalmente, já aí faz a diferença. Mas, a outra grande diferença, que acho que é a chave do sucesso desta exposição, é estar relacionada com as palavras. O que ele procurou para cada quadro não foi em vão de forma alguma. Para além do prazer de vermos o quadro é termos a oportunidade de várias gerações lerem frases chave que nos fazem lembrar e reconhecer escritores portugueses que aprendemos e ouvimos falar desde a infância. Ou seja, revisitamos a literatura no nosso momento actual como observadores”.

Isabel Ponce de Leão, crítica de arte, sobre a exposição revelou: “Estamos em presença de algo inédito na arte portuguesa e que é uma história da literatura muito pessoal que Jorge curval faz por opções de autores. Jorge Curval é um meta-retratista. Ele faz retratos de retratos, mas os retratos, por sua vez, não são exteriores, são interiores. Cada um destes quadros que aqui está, é aquilo que o Jorge pensa da obra do autor e baseada num aparato para-textual que se confunde com a obra”. E conclui: “O que há de interessante na obra de Jorge Curval é que ele negando valores canónicos nunca os pospõe, arrasta-os consigo. Isto dá um encanto a esta exposição”.

O tempo não se esgotou em olhares, no final foram as palavras dos poetas que se ouviram entre vozes como as de Elisa Pinhão Ferreira, Isabel Ponce Leão, António Pinhão Ferreira ou de Margarida Rodrigues.

Por: José Peixoto 

Fotos: Rui Sousa

partilhar Facebook
Banner Publicitário