Voz da Póvoa
 
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Correntes d’Escritas da Biblioteca Municipal para o Mundo

Correntes d’Escritas da Biblioteca Municipal para o Mundo

Cultura | 14 Fevereiro 2025

 

Também nós nascemos pequenos, nenhuma admiração. Depois sim, crescemos e podemos ser admirados. Aconteceu com o Correntes d’Escritas e hoje vamos todos ao Correntes. O primeiro dia recua ao ano 2000, onde as duas línguas ibéricas inauguraram o encontro de escritores na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto com um pequeno grupo de 23 escritores e poetas. Entre outros, participou o angolano Manuel Rui, o cabo-verdiano Germano de Almeida, o brasileiro João Ubaldo Ribeiro, o chileno Luis Sepúlveda, o galego Carlos Quiroga e os portugueses Ivo Machado, Vergílio Alberto Vieira e Onésimo Teotónio de Almeida.

O tema que deu mote às 5 mesas e 7 sessões em escolas e colégios foi o Centenário da Morte de Eça de Queirós. O encontro cresceu e passou para o Auditório Municipal onde permaneceu por muitos anos com salas permanentemente cheias. Seguiu-se o Centro de Congressos do Hotel Axis Vermar, um espaço para 700 pessoas que encheu algumas vezes. O evento literário organizado pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim com o apoio do Instituto Camões, do Instituto Cervantes e do Casino da Póvoa, instalou-se nos últimos 10 anos na sala do Cine-Teatro Garrett.

O encontro de escritores quis cimentar a sua própria memória e em 2002 apresentou o primeiro número da Revista Correntes d’Escritas, com uma homenagem ao grande poeta Sebastião Alba, e no ano seguinte com a revista a homenagear Sophia de Mello Breyner Andresen. Seria criado o Prémio Literário Correntes d’ Escritas Casino da Póvoa, para novas obras em prosa ou poesia, em anos alternados, cuja primeira edição foi entregue em 2004, ao romance de Lídia Jorge “O Vento Assobiando nas Gruas”. Neste mesmo ano surgiu o Prémio Literário Correntes d’ Escritas/Papelaria Locus atribuído a jovens entre os 15 e 18 anos, de forma alternada, prosa e poesia. Já em 2009, foi instituído o Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora, destinado a trabalhos colectivos realizados por alunos do 4º ano do 1º ciclo do Ensino Básico, actual Prémio Luis Sepúlveda, e em 2010, o Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas.

As Conferências arrancaram em 2004 com Eduardo Lourenço (O Lugar da Literatura no Século XXI), seguiu-se Agustina Bessa-Luís, Eduardo Prado Coelho, a escritora brasileira Nélida Piñon, Marcelo Rebelo de Sousa, José António Pinto Ribeiro, Isabel Alçada, Álvaro Laborinho Lúcio, Cardeal Dom Manuel Clemente, o médico João Lobo Antunes, Adriano Moreira, Guilherme de Oliveira Martins, o Cardeal e poeta José Tolentino Mendonça, Francisco Pinto Balsemão, o escritor brasileiro, Ignácio de Loyola Brandão; Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde, Arquitecto Álvaro Siza Vieira, Viriato Soromenho-Marques, Manuel Sobrinho Simões, o filósofo José Gil e este ano o escritor Hélder Macedo que irá falar sobre Camões.

A escrita é um acto isolado, mesmo que o cenário seja de gente à volta. O escritor é levado pela imaginação e abstrai-se do real. O Correntes d’Escritas, evento que quebrou todas as fronteiras ibéricas, em Fevereiro de 2021, na sua 22.ª edição também se viu entre o palco e uma sala vazia, mas não desistiu de perguntar ao vento que passa notícias do país. E o vento calou a desgraça de uma pandemia e levou a palavra integralmente por Streaming (uma tecnologia de transmissão de dados pela internet, principalmente áudio e vídeo, sem a necessidade de baixar o conteúdo) até à casa das pessoas. A Cerimónia de Abertura contou com as ‘presenças’ online do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, da Ministra da Cultura, Graça Fonseca, e do Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, que sublinharam a relevância do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica.

Foram dois dias de uma intensa viagem sem a partilha da presença mas as mesas, mas as conversas a dois, leituras e projectos especiais como As Penélopes, Residência “Casa Vazia”, Vozes transeuntes nos lugares da poesia, a Revista Correntes d’ Escritas e Leituras em família, fizeram com que o Correntes se mantivesse fiel aos seus princípios, o livro e a leitura foram a companhia que a pandemia não separou. Em todos os momentos de emissão foi recordado e homenageando Luís Sepúlveda, vítima em 2020 da pandemia Covid19. No ano seguinte, o tímido abraço chegou ainda de máscara, não fosse o diabo tecê-las.

A logística das Correntes foi sempre em crescendo. “Temos voluntários a colaborar, mas o Pelouro da Cultura vai requisitar funcionários da Câmara a todos os serviços. Essas pessoas fazem o serviço para o qual são destinadas com muito profissionalismos e sobretudo com muito afecto. Regra geral, são quase sempre as mesmas pessoas e como já conhecem parte dos escritores com quem partilham uma certa amizade, há aqui já uma cumplicidade entre todos os que estão a trabalhar no Correntes d’Escritas. São bastantes aqueles que nos ajudam”, sublinha Luís Diamantino.

Para o Vice-Presidente, Vereador da Educação e da Cultura da Câmara Municipal, Luís Diamantino, o tempo é o principal ajudante quando o experienciamos “Já há uma dinâmica própria que dá corda ao evento, as pessoas já sabem o que têm que fazer, são responsáveis pelo seu trabalho e até fazem mais do que aquilo que a gente lhes pede, mas tudo tem que ser bem preparado para que nada fique fora do lugar. São muitos os escritores e as actividades realizadas nos dias das Correntes”.

 

O Correntes d’Escritas é hoje o fermento que se fez pão em muitos outros lugares onde os livros são edifícios de uma memória colectiva, contada em capítulos de universal humanidade.

Por José Peixoto

Fotografia de Rui Sousa

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