Voz da Póvoa
 
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Como Sentir "O pulsar da criatividade" no Diana-Bar

Como Sentir "O pulsar da criatividade" no Diana-Bar

Cultura | 26 Outubro 2024

 

Os lugares assemelham-se a uma ordem que descende do caos. Chegar primeiro, construir primeiro, criar primeiro. A harmonia dos lugares vem depois. Com a herança dos nomes, com a chegada da arte, do tosco ao belo, da melodia ao ruído, da escultura à pintura, do expoente ao poente, se ao longe todos os horizontes são perfeitos, ao perto desintegram-se em formas, esculturas em tela, camadas invulgares, sábias, que se abrem ao olhar, à vontade de entrar, de observar.

As cores parecem roubadas da paisagem do corpo, apropriadas, às vezes como se radiografassem ideias, ideais, repentismos, pensamentos, actos e ilusões, decifrassem mundos prematuros e não técnicas precisas. Precisar apenas de nós para entender e interpretar os plurais desassossegos. O macaco embriagado não bebe da abundância, mas do questionável, da provocação da arte, do oculto, do pré-estabelecido, da demissão de Deus como ser supremo.

Não disse mas pensou, “são minhas as ceifas”, a semente é da terra removida pela aspereza das mãos do artista. A arte é descentralizadora até que o corpo nos traia.

Reconheço a redenção da arte de Jorge Curval como uma estranha sensação, uma presença, uma pretensa. Vislumbro rostos, paisagens, uma instintiva apreensão, uma nuvem, um cheiro que se cola às telas, à pele, uma ausência. Há toda uma literatura de cores, um imaginário surrealista a avivar lembranças. Quem nos oferece nus, gosta do corpo, as páginas quase perfeitas, a mão a assinalar memórias, despedidas. Não sei se a solidão cabe aqui. Sei antever uma consagração, "O pulsar da criatividade".

Depois de uma rara visão artística de Nadir Afonso se ter mostrado no Diana-Bar a convite do MIAC – Museu Internacional de Arte Contemporânea, idealizado por Tomás Carneiro, a história repetiu-se com Jorge Curval que inaugurou naquele espaço emblemático da Póvoa de Varzim, a 12 de Outubro, a sua mais recente exposição.

“Cabe-me cumprimentar e prestar uma vénia ao transcendente artista Jorge Curval, um notável inovador, um genial inspirador, enfim, um génio que alia à sua mente profícua e irrequieta a umas mãos prodigiosas, porque não afirmá-lo: miraculosas”. Foi com estas palavras que o Curador da exposição, Afonso Pinhão Ferreira, folheou as razões de uma vontade em esculpir o artista e a sua capacidade criativa, “uma alma que contempla o eterno e o perfeito”.

Jorge Curval, sempre parco em palavras: “A minha arte trata de sentimentos e emoções e vocês fazem parte da minha caminhada ao longo deste tempo”. Na verdade o seu instinto provocador está nas telas e não no homem.

A encerrar os discursos, Aires Pereira, reconheceu que a aposta na cultura nem sempre é vista como um investimento, mas como uma despesa, porém continuará a ser “uma aposta do município”. O Presidente da Câmara lembrou as actuais valências culturais, mas também as que estão em construção como o Póvoa Arena ou em fase final de aquisição como a Villa Georgette. Quanto à exposição diz ser “um convite para que as pessoas aqui venham e conheçam a obra do Jorge Curval, um artista que nos convoca para muitas visões daquilo que é a sua obra e do que nos pretende transmitir”.

Houve ainda um tempo e uma ‘voz’ a animar o "O pulsar da criatividade", exposição que espera pela sua visita até 30 de Dezembro.

Por: José Peixoto

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