É como se da ‘Gadanha’ se ceifassem novos poemas. Creio que os poetas não escrevem livros, são mais próximos dos pintores. Olham para a folha e revelam-se. Depois, são capazes de inundar um só poema retirando-lhe as margens, para que as palavras não se sintam apenas livres.
“Se quiséssemos trazer a ordem a esta mancha livre de contornos, invocaríamos o vira-vento do menino inconsumado e nele Casa e logradouro, cinco sentidos, fauna e flora, artes e ofícios, medos e exaltações e a humana nostalgia de simplesmente ser. Assim como assim, e já que se faz tarde, calamos a pena, relemos as linhas, e voltamos a nós.” Explica Mário Cláudio numa Nota Prévia, o livro de Aurelino Costa que será lançado no Correntes d’Escritas, às 21h30, no Cine-Teatro Garrett, Sala de Ensaios.
…
O meu medo era
ser engolido por eles
sobretudo à noite
uma inquietude larvar
metia-se em mim
transformava-me em bicho
deglutindo pânico
levantava-me da cama
e dormia
nos cantos do quarto
ou enfiado
na palha do colchão
onde diziam, também,
se tinham escondido
os tesouros de família
…
Nesta “Casa e Logradouro” é de dentro que vem a palavra falar ao ouvido do poeta. É como se recordar fosse poema por dizer.
Valter Hugo Mãe disse do seu entender que “tudo nestes versos é de ouro. Um ouro que nos acaba. A menos que a poesia, por tão grande utopia, nos salve”.
Eu diria, a poesia do Aurelino é grande, não é bonita, às vezes até arranca uma lágrima.
O livro “Casa e Logradouro” de Aurelino Costa que será apresentado às 21h30, no Cine-Teatro Garrett, Sala de Ensaios.
Por: José Peixoto