Voz da Póvoa
 
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Carlos Paredes ou os Verdes Anos de um Criador Amadurecido

Carlos Paredes ou os Verdes Anos de um Criador Amadurecido

Cultura | 6 Agosto 2025

 

O Carlos não tinha paredes, ou melhor, derrubava-as. Criou a sua eternidade com músicas como Os Verdes Anos, Canto do Amanhecer ou Asas Sobre o Mundo, e discos como Movimento Perpétuo, Uma Guitarra com Gente Dentro ou Espelho de Sons, tudo ‘Na Corrente’ de músicas e palavras imaginadas pelo trilhar de dedos de um compositor incomparável e único. Primeiro, a receber os ensinamentos do pai e mestre da guitarra portuguesa, Artur Paredes, depois, em nome próprio, acompanhado por Fernando Alvim e mais tarde por Luísa Amaro, a sua última morada para o amor.

No ano em que se assinala o centenário do nascimento do mestre Carlos Paredes, o Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, homenageou o grande criador de inquietações sonoras, com o musicólogo Rui Vieira Nery a conferenciar “Das Raízes Coimbrãs a Uma Arte Universal”, caminho percorrido pelo Senhor guitarra portuguesa que mostrou ter muitos dedos.

A viagem começou com o nascimento de Carlos Paredes em 1925, “os sons de criança são de Coimbra” aos 6 anos vai para Lisboa, estudou violino e sabia música. “Era um homem que vinha da tradição de Coimbra, mas tinha uma cultura musical muito vasta e referências musicais muito amplas. Ele gostava muito de piano, da melodia expressiva do pianismo romântico, gostava muito de Chopin, gostava muito do virtuosismo de Liszt, de Paganini porque ele era um virtuoso obsessivo, gostava muito de música barroca, ouvia muito Bach. Depois, ficou muito entusiasmado quando começou a ter a possibilidade de ouvir a música antiga portuguesa, do século XVIII, começou a ouvir Carlos Seixas, ficou encantado”, referenciou Rui Vieira Nery.

Na verdade a inspiração dá muito trabalho, muito ouvido e leitura até chegar ao admirável, ao incontornável criador de música para filmes, e filmes que cada um de nós pode imaginar ao ouvir as suas músicas. Depois de apoiar a candidatura do General Humberto Delgado, derrotado pela maior fraude eleitoral de que há história em Portugal, sofreu a repressão própria dos tiranos. O jovem Carlos Paredes foi preso pela Pide, “primeiro em Aljube e depois em Caxias e vai ao tribunal plenário de Lisboa, de triste memória, que o acusa de actividade e organização de associação secreta e subversiva, que usa a designação de PCP. Sendo considerado um militante comunista é condenado e fica 16 meses na cadeia”.

Ao homem não se lhe roubam as palavras, ele é capaz de as compor. De resto, viveu entre os grandes, respeitando todos. Dialogou em disco com Charlie Haden e improvisou num outro disco com o maestro e pianista António Vitorino de Almeida. Talvez não saiba, mas o salão nobre do Casino da Póvoa foi palco do concerto único que juntou em 1990, Carlos Paredes e Paco de Lucía, mestres incontestados dos respectivos instrumentos. Mestres são aqueles que são capazes de antecipar o tempo.

O legado musical de Carlos Paredes “constitui indiscutivelmente uma referência incontornável do património artístico português do século XX.” Ler faz bem e ouvir também.

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