Sorte teve quem lá esteve. Sexta-feira, 13 de Setembro, a sede social da Fundação Dr. Luís Rainha, recebeu mais um ‘Ciclo Aberto’, o 10º Episódio: Camões 500 Anos, com uma convidada muito especial, Maria Bochicchio, investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que conferenciou sobre “Camões, o estranho estrangeiro, apesar de vivo e apesar de morto”.
Passaram cinco séculos e embora tenha, num certo tempo, atravessado um denso nevoeiro, não se perdeu como o Dom Sebastião. Almeida Garrett encontrou-o na bruma e recuperou-lhe a luz capaz de acender a grandeza épica dos Lusíadas e da obra do poeta que se assinala a 10 de Junho - Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Alguém conhece outro país que celebra o seu dia com o nome de um poeta?
Camões tem uma costela da Galiza, os avós eram galegos, mas o ‘estranho estrangeiro’ justifica-se por muitas outras razões, “ele teve que sair de Portugal, emigrar nos territórios do ultramar. Esteve em Goa, em Macau, no Oriente, e embora fizessem parte dos territórios portugueses, Camões naquelas terras era um estrangeiro”. Para Maria Bochicchio foi “um estranho estrangeiro porque, no fundo, estava em território lusófono, mas numa cultura completamente diferente. Por isso, foi estrangeiro em casa própria, porque fazia parte do império português. Isso representa um pouco o ser lusófono”.
O poeta entre amores e desamores combates e boémias deixou um legado para a eternidade: “Camões viveu de uma maneira um pouco libertina, frequentava os bordéis da cidade, as tabernas, fazia uma vida um pouco debochada, apaixonada pelo belo, não foi um poeta do povo, mas da corte que, digamos, sempre o sustentou. Ele recebia uma certa quantia de dinheiro”. A investigadora revelou que o poeta “recebeu uma avença para os seus Lusíadas, por isso o Clero e o mundo da aristocracia o tinham em grande consideração. Como poeta ele era da elite portuguesa”.
Maria Bochicchio acrescenta que “foi um poeta raro, excepcional. Se pensarmos na época de Luís Vaz de Camões, os seus contemporâneos eram figuras importantíssimas como o tratadista Francisco de Holanda, o pintor Fernão Gomes, o escritor Fernão Mendes Pinto, o historiador Francisco de Andrade ou os poetas Diogo Bernardes, António Ferreira, D. Manuel de Portugal, e Corte- Real, que a força poética de Camões quase ocultou. Numa vida tão breve parece que viveu muitas vidas e com uma história biográfica praticamente quase incógnita”.
Num olhar sobre o presente, para a Investigadora “cada século tem as suas necessidades, e o século XXI interessa separar. As temáticas que eram muito importantes na renascença que depois foram esquecidas e que agora voltam a pôr o homem no epicentro do universo, o teatro do mundo volta a ser um tema interessante. O desconcerto do mundo, o Eu, a emoção-relação, a viagem, sentir-se estrangeiro em terras estrangeiras. São temáticas que hoje os poetas da actualidade se interrogam”.
Vêm aí mais dois episódios do Ciclo Aberto que vão abordar os 500 anos do nascimento de Luís de Camões. O próximo é já a 4 de Outubro, às 18 horas, com Isabel Rio Novo.