A tia Micas no horizonte dos seus 92 anos ainda tem fé num coro natalício com crianças israelitas e palestinianas. Lembra-se do verde musgo apanhado com cuidado, da palha e de alguma fresca terra. Era Natal e o tempo passava vagaroso. O bacalhau servia os pobres. E os deserdados rendiam-se ao presépio. O último dos cinco domingos anteriores ao domingo de Natal ficou no calendário do natalício cristão como o advento. O luminoso presépio rasgando as trevas é cada vez menos representado. O nascimento de Jesus rodeado por um burro e uma vaca parece descaber na vaidade ocidental. Afinal, as ornamentações natalícias obedecem às manifestações festivas com bengalas e chupa-chupas. Se Jesus tivesse nascido num hotel de 5 estrelas … O aparecimento, o nascimento e a descoberta sempre deliciaram a curiosidade humana. O burro e a vaca que sempre acompanharam a representação do presépio ficaram condenados ao degredo quando o Papa Francisco considera que esses animais não estavam no presépio original. Com Gaza a ferro e fogo convém relembrar que a “terra Prometida englobava Israel, a Palestina, a Cisjordânia, e partes da Jordânia, Síria e Líbano. Quando relembro a fuga para o Egito de Jesus, Maria, o menino e o burrito fugindo da ira de Herodes uma imagem me entontece e ludibria. E as crianças de Gaza para onde vão?
Ademar Costa, cronista e poeta
