No âmbito da celebração do 25º Aniversário do Centro de Estudos Regianos, foi inaugurada no dia 16 de Setembro, no Grémio Literário em Lisboa, a exposição “As Artes de Régio” que poderá visitar até 30 de Setembro.
A mostra é constituída por dois núcleos: Os Desenhos de Régio e o estudo genético: Os Escritos de José Régio em Processo – do Borrão do Autor às Mãos do Leitor.
Além da apresentação documental, a sessão inaugural contou com a presença do Doutor Miguel Real que proferiu a conferência Bem Humano em Régio. A exposição será encerrada com um colóquio sob o título Conversa de Fecho conduzido pelo Doutor Eugénio Lisboa e ainda um momento de poesia e canto, com Francisco Carvalho e Manuel Sobral Torres.
Na produção artística de José Régio, o desenho foi desenvolvido como uma procura de expressão total, dentro de uma linha modernista expressionista de excessos muito conotados com a estética da revista presença, que preconizava a confluência das Artes. Por vezes, chegou mesmo a adquirir marcas de teatralidade, fruto da combinação das cores, agressividade dos traços e emotividade das expressões numa interação redundante com as palavras, de modo a explorar completa e profundamente os seus múltiplos sentidos, tanto ao nível estético como semiótico. Em momentos de intensa emotividade, a linguagem plástica surgia antes da escrita e funcionava como um elemento estimulante da mensagem verbal. Estando a imagem mais próxima da representação mental do imaginário, o desenho constituía para o autor a parte mais genuína da criação. Os traços e as cores revelavam maior expressividade do que a escrita carregada de regras inibidoras à fluência do pensamento. Daí a razão por que muitos dos manuscritos beneficiam dessa comunhão de imagem, cor e dinamismo, criando uma intertextualidade e circularidade metalinguística perfeitas.
Embora se designasse “um desenhista de domingo”, Régio tinha noção dos dons que possuía e evoluiu desenhando muito, umas vezes por necessidade intrínseca de complementaridade da expressão, outras apenas como mero processo lúdico.
Regressado à sua terra natal, na década de 60, Régio revelou ter consciência da qualidade artística desses desenhos, manifestando perante o amigo Flávio Gonçalves vontade de os “guardar como documentos para futuro”. Porém, o gosto de os oferecer fez com que poucos permanecessem entre os seus bens pessoais, pouco antes do seu falecimento, pelo que retorquiu perante a surpresa do amigo: «Deixe lá! Afinal eu gosto, como o Camões que a vida me fique “por o mundo em pedaços repartida!”»