Voz da Póvoa
 
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As Artes de Régio no Grémio Literário em Lisboa

As Artes de Régio no Grémio Literário em Lisboa

Cultura | 22 Setembro 2022

 

No âmbito da celebração do 25º Aniversário do Centro de Estudos Regianos, foi inaugurada no dia 16 de Setembro, no Grémio Literário em Lisboa, a exposição “As Artes de Régio” que poderá visitar até 30 de Setembro.

A mostra é constituída por dois núcleos: Os De­senhos de Régio e o estudo genético: Os Escritos de José Régio em Processo – do Borrão do Autor às Mãos do Leitor.

Além da apresentação documental, a sessão inaugural contou com a presença do Doutor Miguel Real que proferiu a conferência Bem Humano em Régio. A exposição será encerrada com um colóquio sob o título Con­versa de Fecho conduzido pelo Doutor Eugénio Lisboa e ainda um momen­to de poesia e canto, com Francisco Carvalho e Manuel Sobral Torres.

Na produção artística de José Régio, o desenho foi desenvolvido como uma procura de expressão total, den­tro de uma linha modernista expres­sionista de excessos muito conotados com a estética da revista presença, que preconizava a confluência das Artes. Por vezes, chegou mesmo a adquirir marcas de teatralidade, fruto da com­binação das cores, agressividade dos traços e emotividade das expressões numa interação redundante com as palavras, de modo a explorar com­pleta e profundamente os seus múl­tiplos sentidos, tanto ao nível esté­tico como semiótico. Em momentos de intensa emotividade, a linguagem plástica surgia antes da escrita e fun­cionava como um elemento estimu­lante da mensagem verbal. Estando a imagem mais próxima da representa­ção mental do imaginário, o desenho constituía para o autor a parte mais genuína da criação. Os traços e as cores revelavam maior expressividade do que a escrita carregada de regras inibidoras à fluência do pensamen­to. Daí a razão por que muitos dos manuscritos beneficiam dessa comu­nhão de imagem, cor e dinamismo, criando uma intertextualidade e cir­cularidade metalinguística perfeitas.

Embora se designasse “um desenhis­ta de domingo”, Régio tinha noção dos dons que possuía e evoluiu de­senhando muito, umas vezes por ne­cessidade intrínseca de complemen­taridade da expressão, outras apenas como mero processo lúdico.

Regressado à sua terra natal, na dé­cada de 60, Régio revelou ter cons­ciência da qualidade artística desses desenhos, manifestando perante o amigo Flávio Gonçalves vontade de os “guardar como documentos para futuro”. Porém, o gosto de os ofe­recer fez com que poucos permane­cessem entre os seus bens pessoais, pouco antes do seu falecimento, pelo que retorquiu perante a surpre­sa do amigo: «Deixe lá! Afinal eu gosto, como o Camões que a vida me fique “por o mundo em pedaços repartida!”»

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