Voz da Póvoa
 
...

A Música Erudita a Beber na Fonte do Jazz

A Música Erudita a Beber na Fonte do Jazz

Cultura | 13 Julho 2021

Doidos os mestres não se limitam à loucura das brancas e pretas correrias de dedos pela reservada partitura. Os olhos vêem tudo, quando fechados sentem. Não sei explicar, a poesia não se explica quando a palavra é um diapasão que me faz lembrar um ‘Diapajazz’, programa anoitecido que um dia inventei numa rádio vizinha.

Um namoro feliz, as mãos a dizer, como se já soubessem de nós, como se adormecer fosse tocado no coração do mais pequeno rebento. Há um momento de berço, como se nascer fosse um permanente renascer.

Para mim serás sempre bonita mesmo que as rugas aconteçam. Sempre à vez, um de cada vez, a subir a montanha, a descer pelos rios em cascata ou a entenderem-se com a asfixia das margens. Um piano só, quatro mãos.

O palco nunca foi tão verdadeiro no cenário, Cine porque todas as imagens foram possíveis de imaginar, Teatro tão real, comovente, absorvente, emocionante e outros adjectivos que o próprio Garrett escreveu nas suas obras.

Maria João Pires ao piano e Júlio Resende sentado ao lado a imaginar os seus dedos nos dedos dela. Depois, o inverso do tempo mudou a fotografia, mudou os actores, os silêncios.

Diálogos: O Erudito e o Jazz, quando um e o outro se cruzam, a corte e a curte, os Palácios e os Bares. Quem nos subtrai não sabe multiplicar.
 
O piano endoideceu ou não. Sentiu-se tão capaz que reinventou sentimentos. O silêncio e o vento, a pétala e o jardim, o perfume e a música. Quem nos comove também nos arrepia, transcende a norma. Ouvir é não respirar.
 
A luz, o relâmpago, o trovão, Júlio Resende na percussão do piano, às vezes um baixo ou a guitarra e Maria João a sentir na espera, a não deixar a nota morrer. Todos os sons a vaguearem pela sala, apaixonada, rendida, capaz de se envolver em abraço e eterniza-lo. Amanhã, o ontem presente. Natural como a impaciência.

Os compositores convocados pelos deuses ao piano foram ovacionados em cada nota. Mas, Chopin e Debussy, ao luar, tiveram o privilégio de bater à porta do coração, e aluar o Fado no Jazz a finalizar uma noite que apagou da memória a palavra esquecimento.

 

 

partilhar Facebook
905/DSC_0012_.jpg
905/DSC_0013_.jpg
905/DSC_0011_.jpg
Banner Publicitário