
"Tudo acaba, tudo começa à mesa do homem só que escreve, descreve, constrói cenários". E são cenários oníricos e alucinados os que se erguem nestes poemas de António Pedro Ribeiro, que têm o álcool e a beleza sórdida da noite como matéria-prima. A escrita é vertiginosa, tem um ritmo sôfrego, é um fio de palavras a caminhar para o abismo.
Saltamos de bar em bar, entre copos e conversas e fumo, levados por uma "embriaguez permanente" e pelo sabor amargo das ressacas. O poeta, ébrio e caótico, é um "Narciso cabotino ao espelho”, afundado numa espiral de "caligrafias / acrobacias / alfabetos / dialectos/ por desvendar". A escrita automática, "sem mestres nem escolas", desce aos infernos em todas as páginas e, por vezes, busca a redenção em versos como estes: "Ser hoje um arcanjo/amanhã um pintor/extrair sonhos/das plumas das aves/e dos cabelos das ninfas".
A. Pedro Ribeiro, "Á Mesa do Homem Só. Estórias", Silêncio da Gaveta, in "Diário de Notícias", algures no tempo...
António Pedro Ribeiro, O Poeta