Mais precisamente, uma certa humanidade capaz de entender o ser livre e o livre Ser. Os artistas não carregam bombas, a única arma que conhecem é a sua cultura. Isto bastaria para nos libertar as palavras de segundas intenções.
O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, embora tenha iniciado há 46 anos e feito a sua travessia quase em exclusivo pela música erudita, nunca deixou de transportar uma ideia de músicas do mundo, agora mais enraizada pelo seu director e pianista Raul da Costa.
Depois de experienciar outras sensibilidades sensoriais com a Banda Musical da Póvoa de Varzim, trazer a palavra poética para o palco, fazer regressar o Jazz, foi a vez de preencher, no dia 23 de Julho, outros vazios com a música da Palestina interpretada por “Le Trio Joubran”, os irmãos Adnan, Samir e Wissam Joubran. Cada um com o seu alaúde e a sua sensibilidade, acompanhados no palco do Cine-Teatro Garrett por um percussionista e um violoncelista notáveis, por várias vezes arrebataram emoções, aplausos e vivas à Palestina.
O trio do nosso pasmo, foi de grito em quinteto, assombroso delírio de intenções harmoniosas e celebrações libertárias. A sua música tem a força da elevação: seremos sempre capazes de nos erguer. O universo é sonoro: teremos sempre que o saber compor. A Palestina quer-nos vivos para percebermos quantos mortos são preciso entre cada disparo e o nosso silêncio.
Sol, chuva, terra, ar, vento, mar, tudo se ouve, tudo se vê. Riso, lágrima, palavra, alaúdes, percussão, violoncelo, amor nos dedos apaixonados. Lua hipnótica, com os nomes a correr, a revelar-se na passerelle do massacre, de todos os massacres. Pelas vítimas havemos de calar as armas, dizer basta, a culpa é nossa.
Não respira, inspira, o momento é sublime, somos atravessados por uma paz de sons do fado, da Andaluzia, da habitada origem das nossas influências.
Compreender a música é compreender as diferenças. Cerrar o olhar e ouvir. O que é que Deus tem a ver com isto? A nossa casa é o mundo em ovação. É preciso humanizar a palavra, enquanto a Palestina estiver ocupada, a sua cultura e a sua identidade, continuarão sob ocupação.
Por: José Peixoto
Fotos: FIMPV