Voz da Póvoa
 
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A Lancha Poveira Acendeu Vinte e Nove Velas

A Lancha Poveira Acendeu Vinte e Nove Velas

Cultura | 8 Outubro 2020

Ao mar regressou na data do seu primeiro navegar, depois de uma pequena cirurgia nos estaleiros de Vila do Conde, onde em tempos, outras Naus se desenharam nas mãos de carpinteiros navais. Quando pela primeira vez beijou a água, num bota-abaixo presenciado por mais de duas mil pessoas, ninguém imaginaria que o barco poveiro, 29 anos depois, ainda desafiasse o mar à vela, como antigamente.
 
É sempre bom relembrar que a lancha poveira do alto é um barco de boca aberta, de quilha, roda de proa e cadaste. Arma uma grande vela de pendão de amurar à proa, com 170 metros quadrados. Como não dispõe de patilhão, um leme alteado assegura essa função. A “Fé em Deus” foi reconstruída segundo normas e modelos tradicionais locais e representa uma das últimas lanchas poveiras a ir ao mar na década de cinquenta do século passado. O início da construção deu-se a 27 de Fevereiro de 1991, com o levantamento da quilha no picadeiro e o bota-abaixo a 15 de Setembro do mesmo ano.

O sonho de voltar a ver a Lancha Poveira a navegar, sempre se achou na memória de velhos pescadores, mas a ideia da sua reconstrução deve-se a Manuel Lopes, na altura, director do Museu Municipal de Etnografia e História e da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim, que lança o repto da sua reconstrução no início dos anos 80 do século passado. Alberto Marta e Silva Pereira, na época Presidentes do Clube Naval Povoense e da Assembleia Geral, estiveram também envolvidos e apoiaram, incondicionalmente o projecto.

A “Fé em Deus” foi uma das últimas lanchas a deixar o mar nos finais da década de 50. Era propriedade do «velho» arrais «tio» Francisco “Fomenegra”, tendo o seu filho Manuel Fernandes Troina, oferecido a Lancha ao Museu. Em Julho de 1960, abandonaria a praia do pescado. Pela incúria dos homens nunca chegou ao Museu, tendo acabado os seus dias num terreno camarário junto à “Fortaleza”.

A “Fé em Deus” rejuvenescida já atravessou fronteiras até à Galiza para participar em encontros de embarcações tradicionais. Já rasgou para o Sul até ao Sado para participar numa regata de Galeões e, até Lisboa para participar na Expo 98. Dois anos antes, participou em Brest, França, no maior encontro mundial de embarcações tradicionais, que se realiza em cada quatro anos e junta mais de 1500 barcos de todo o mundo. Deus existirá enquanto houver Fé e a Lancha Poveira enquanto houver homens.

José Peixoto

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