Ninguém na rua, uma árvore, muitas, todas despidas pelas mãos do Inverno, cumprindo a ordem do vento, sem protesto. Foi isso que a Biblioteca Municipal Rocha Peixoto acolheu, durante a tarde do primeiro de Abril, a exposição “Sleeping Giants”, do fotógrafo Hélder Luís.
A casa ganhou nome e razão, abrigo e obrigação num tempo de confinamento pandémico que ocorreu em 2021. Hélder Luís revelou que as fotografias foram retiradas da paisagem ‘desoladora da cidade’ durante os seus inquietos passeios noturnos, como quem procura “alguma sabedoria ou orientação”. O olhar fez-se de instantâneos registos, de experimentados silêncios.
Com as ruas vazias de gente, Hélder Luís encontrou as árvores estáticas a observá-lo, mas o detalhe saiu do seu olhar, da lente. Crescem na direcção do céu, inclinam-se à passagem do vento e até lhes ganham a direcção. Esses “enormes seres vivos”, experienciam a vida no mesmo lugar. Por vezes, a sua idade multiplica-se muito além da nossa. Chegamos depois, mas quantas vezes lhes usurpam o seu lugar.
Os tempos estão de tal forma desafinados que o designer, fotógrafo, artista multimédia e músico quis, em consciência, desafiar todos os olhares à reflexão. De facto, somos nós “os gigantes adormecidos. Prontos a acordar de um longo sonho de inconsciência”.
Fazer por nós é “ver para além dos nossos egos e perceber quanta beleza existe à nossa volta e em nós mesmos. Basta pararmos para ouvir o silêncio” de uma árvore.
A mostra pode ser visitada até ao dia 29 de Abril.
