A alvorada pintava, devagar, o céu de dourado, iluminando o cinzento chumbo das nuvens carregadas, prontas para lavar o corpo e a alma dos viventes que se aventurassem a céu aberto.
A paisagem verdejante se estendia até perder de vista, cobrindo de esperança o trajeto entre o Porto e Lisboa, que parecia tão longo quanto viajar de uma galáxia à outra.
Enquanto mirava a estrada serpenteante, através da janela do autocarro, sentia a ansiedade que fazia o seu coração bater na ponta dos dedos, pois ela nunca sabia o que esperar do lado de lá.
Flores ou espinhos? Um misto dos dois, talvez…
O que não era mau de todo quando lembrava daquela rosa fechada em uma redoma, em um minúsculo planeta, mas amada por um príncipe que nunca a esquecia, ainda que estivesse a léguas de distância.
Bem, ela era o príncipe, nesse caso.
O principezinho que pôs os pés no Caminho e cativou a sua raposa, mas, entretanto, nunca encontrou rosa mais perfeita que a sua!
Pensar nas suas vibrantes cores, no seu sorriso leve e fácil, na ternura que espalhava pelo mundo, preenchia o coração desse principezinho de tristeza, remorso e solidão, pois sabia que a redoma que protegia a sua tão amada rosa das adversidades exteriores, encarcerava a sua essência fazendo com que ela se descolorisse e murchasse dia após dia.
Sentada na poltrona do autocarro que o levava para Lisboa preparava-se, mentalmente, para levantar a redoma e acolher os espinhos. Para deixar entrar uma lufada de ar fresco e, quem sabe, poder sentir o suave aroma e toque das pétalas que ele tanto desejou, afinal, as flores, tal como ele, são efémeras, mas o amor é eterno e disso o pequeno príncipe sabia muito bem.
Para contemplar a beleza das borboletas, por vezes, temos de suportar a dor de ver uma ou outra lagarta a se alimentar das folhas da flor que mais amamos.
Maria Beck Pombo