A Biblioteca Municipal Rocha Peixoto recebe no sábado, dia 2 de Março, a partir das 16h00, o lançamento do livro “A Essência das Cinzas” de Conceição Oliveira. Apresentação da obra será da responsabilidade da escritora, Clementina Matos. Terá também a participação poética de Virgília Almeida, poeta (Grupo Poético de Aveiro)
“Este romance de Conceição Oliveira, A Essência das Cinzas, está longe de se incluir no que se poderá considerar ser um certo romantismo esquemático, ungido pelas grandes editoras norte-americanas, cujo filão inicial entronca em Nicholas Sparks, Lucy Score e outros, e que entre nós está representado por Raul Minh’Alma. A Essência das Cinzas, sendo um romance em que o amor, como discurso, é condição central na progressão diegética, inclui outras componentes narrativas que o afastam da literatura socialmente acrítica e de puro deleite.
O romance de Conceição Oliveira começa por nos revelar no Prólogo parte dos incidentes que irão ocorrer, desenvolvidos ao longo da narrativa, concluindo com um Epílogo em que a esperança em dias melhores para a protagonista nos é confirmado, cabendo à autora o papel de demiurgo, não a impedindo de trazer a realidade dos dias que vivemos para a ficção, não se inibindo de referir o actual conflito Rússia/Ucrânia e as consequências sociais e políticas que essa “guerra por procuração” terá para o futuro da humanidade.
Se o Prólogo nos abre o apetite ao que virá, de que modo os incidentes se irão estabelecer, o Epílogo afasta ventos adversos num Happy Ending redentor, como deve acontecer num romance que não nega acriticamente as heranças clássicas do género, antes as absorve e regenera.
A Essência das Cinzas, progride temporalmente entre 2017 e 2020, traçando o percurso de Ana Clara desde a licenciatura, o início da docência, a paixão por Eduardo e o seu fim trágico, o tempo do luto, o sofrimento de Ana, o sentido e o peso da culpa, a catarse psicologicamente dolorosa, os dias de solidão e de silêncio, a viagem aos Açores, culminando com a ligação da protagonista a João Moniz, o guia turístico por quem se irá apaixonar, que a salvará da depressão que a arrastaria, a ela e à mãe, aos dias sem sol e sem ar, espécie de Casa de Bernarda Alba, onde o silêncio e a reclusão habitam.
Conceição Oliveira cumpre a preceito a divisão aristotélica da tragédia, mesmo que se sirva da maleabilidade discursiva que a narrativa contemporânea permite: a autora não se coíbe de introduzir alusões a outros textos, de fazer referências de ordem política e social, de nomear, como afirmação dialogal, vários adágios conhecidos, de referir, a propósito da Figueira da Foz, a obra-prima de Jorge de Sena, Sinais de Fogo.
A Essência das Cinzas, é um romance de queda e recomeço, de culpa e de sublimação, de consciência do trágico que a vida pode conter e da coragem para ultrapassar os tempos do fechamento e do desespero, através da vontade de mudar, de fazer a catarse e seguir em frente: a morte dos que amamos não pode, não deve condicionar o nosso desejo de viver, de partir de novo em busca do sol.”
