Ela ergueu a quilha no picadeiro, a 27 de Fevereiro de 1991 (dia da maior tragédia marítima da colmeia piscatória poveira acontecida em 1892 e que roubou da vida 105 pescadores). O bota-abaixo deu-se na enseada do Porto de Pesca, no dia 15 de Setembro do mesmo ano, na presença do Governador Civil do Porto, Mário Correia; do Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Manuel Vaz; dos representantes das associações e de todas as autoridades locais, mas acima de tudo um mar de gente anónima semeada pelo areal, entre sorrisos e lágrimas agarrados à ‘Fé em Deus’ que serviu de baptismo à Lancha Poveira do Alto.
Concretizava-se assim, um velho sonho de Manuel Lopes, Director do Museu e da Biblioteca Municipal, que apoiado pela comunidade poveira, Câmara Municipal e Clube Naval Povoense, fez renascer da memória o barco poveiro.
Passaram 32 anos, o mestre de sempre, Agonia Areias, agarrou no leme e rumou com quatro tripulantes até aos estaleiros de Vila do Conde, em Azurara, na margem direita do Rio Ave, para rapar a barba de algas que crescem no casco da Lancha e, avivar a cor que o sol e o tempo desmaiou nas madeiras do maior símbolo da comunidade poveira. A “Fé em Deus” precisa de viagem, de encontro, de encontros.
Como escreveu Fernando Pessoa – Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: ‘Navegar é preciso; viver não é preciso.’ Quero para mim o espírito desta frase, transformada / A forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Por José Peixoto
Fotos: JP