Voz da Póvoa
 
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A Educação e a Educação Popular em Conferência

A Educação e a Educação Popular em Conferência

Cultura | 24 Junho 2025

 
 
A Fundação Gramaxo de Oliveira, com sede em Matosinhos, acolheu no dia 21 de Junho, a Conferência “A Educação e a Educação Popular na I República (1910-1926) proferida pelo Professor Doutor António Ventura, Historiador e Professor Emérito da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Casa cheia e atenção plena para as ideias de uma educação para todos.
 
Após apresentação do Orador pelo Dr. Afonso de Barros Queiroz, Presidente da Fundação, a violonista Oksana Kurtash interpretou “Méditation” de Massenet e o tema principal da música do filme “A Lista de Schindler”, de J. Williams.
 
De seguida, o Professor Doutor António Ventura prestou homenagem à arte e ao virtuosismo musical da violonista e proferiu a Conferência, começando por introduzir os temas chaves: Afirmação do discurso que colocava o povo e a sua educação como valor importante; positivismo dos Republicanos que acreditavam na evolução inevitável, que, ao longo do tempo, trazia mais progresso, numa sucessão de situações cada vez mais avançadas; a República era inevitável se o povo tivesse a possibilidade de aproveitar da educação; a educação está no centro do debate político e social; conforme as estatísticas, na secunda metade do século XIX, a maioria da população estava sem escolarização; em 1868, 78% da população era analfabeta e, em 1930, ainda 62%; existência de movimentos progressistas diversos, nos quais o movimento educativo e social da Igreja; foram criados cursos noturnos e escolas móveis; em 1910, a Monarquia cai por inação... e começa a I República.
 
A Conferência dividiu-se em duas partes: No ensino oficial, o que mudou? – A Educação Popular.
 
O ensino oficial: Antes da I República, não havia uma organização da educação. Houve a criação de um Ministério da Educação em 1870 mas este durou pouco tempo, alguns dias... Só em 1913, houve um Ministério da Educação.
 
Com o Governo Provisório de 1911, houve uma grande reforma do ensino primário cuja organização passou a caber aos Municípios, a criação do ensino infantil, a organização do ensino primário em dois ciclos (elementar e superior) e a criação de escolas móveis. Com a reforma de 1911, criação de três escolas Normais (Lisboa, Porto, Coimbra). Mas, com as dificuldades políticas da I República, as sucessivas mudanças impediam a concretização das reformas.
 
1915: Criação das escolas móveis para adultos (com programa que incluía a educação cívica).
 
1917: Portugal entrou directamente na I Guerra (todavia já estava a combater em Moçambique desde 1914). A entrada na guerra implicou consequências económicas e o fim da I República.
 
Na época, apesar dos progressos obtidos, ainda mais da metade da população era analfabeta. Houve progressos na luta contra o analfabetismo, mas foram lentos...
 
- Criação dos Liceus e das Escolas Normais Superiores;
 
- Outra reforma importante: no final do século XIX, criação do ensino técnico, que foi excelente, mas que, mais tarde foi substituído... por pior! As associações comerciais fundaram Escolas Técnicas.
 
- Em 1918, Alfredo Magalhães fez uma reforma profunda. 
 
- Desde o Marquês de Pombal e até a I República, o ensino superior era só na Universidade de Coimbra. As Escolas Técnicas foram transformadas em Faculdades e foram criadas as Universidades de Lisboa e do Porto.
 
Em 1911, um fundo universitário criou bolsas de estudos (para promover a investigação); foi criada a Escola Superior de Educação Física. Mas faltavam meios...
 
Quanto ao tema A Educação Popular, nos finais do século XIX, a comunicação dos partidos (Republicanos e Socialistas) fazia-se pelos jornais dos partidos. (João Franco, defensor da política social: “Eu vou caçar ao campo dos Republicanos”. 
 
Em 1904, foi criada a Universidade Popular (em Lisboa), para outro tipo de ensino (bibliotecas, visitas, concertos...) e não para aulas tradicionais.
Em 1910/1911, o “Jornal da Mocidade”.
 
No Porto, a “Renascença Portuguesa”, para promover a educação. 
 
Em 1912, criação da Universidade Popular do Porto e de Coimbra, com tentativas sem sucesso em Vila Real e na Póvoa de Varzim. 
 
Alexandre Ferreira (pai do poeta José Gomes Ferreira) fundou a Universidade Livre de Lisboa, (objetivo de educação moral do povo português). As estatísticas mostram que entre novembro de 1912 e julho de 1913, cerca de 20.000 pessoas assistiram a sessões e em 1915, as inscrições eram de empregados (do comércio, domésticos...) A Universidade Livre não conseguiu extensão fora de Lisboa. Em Coimbra: 1925. O 28 de maio de 1926 foi um golpe mas a Universidade Livre continuou. 
 
O Professor António Augusto Ferreira de Macedo foi a alma da Universidade Popular portuguesa, instituição moderna, que foi marginalizada no Estado Novo. Leonardo Coimbra concedeu-lhe a Utilidade Pública.
 
Universidade Popular Portuguesa, com sede na Padaria do Povo: João Camoesas, médico que foi deputado e ministro criou secções (decentralizou) nas associações e pequenas bibliotecas nos sindicatos.
 
A Dinamização da leitura foi uma preocupação constante (ofertas de livros por entidades diversas);
 
Foram instaladas medidas como: Projeções luminosas fixas (slides); Grupos de estudos; Canto coral (com notável sucesso do Orfeão das crianças); Hora do conto; Mutualidade Infantil: organização e preparação da solidariedade entre crianças; Concertos para trabalhadores manuais; Consultório de psicologia social; Laboratório; Conferências por personalidades muito diversas; Ciclo de “conferências sociais”.
 
A Universidade Popular Portuguesa acabou com o Estado Novo.
 
Balanço: Algumas das reformas da I República continuaram (não há corte, há uma transição, com cortes, às vezes superficiais); O Ensino Popular tinha por objetivo que o povo fosse instruído, crítico; A revista Seara visava a criação de uma elite capaz de governar...
 
No final da conferência, a violonista Oksana Kurtash interpretou com brilho obras de Piazzola (Estudo Tanguistico nº 3) e de Paganini (Capricho nº9), tendo a sessão sido encerrada pelo Presidente da Fundação que convidou os participantes para um Porto de Honra.
 
Fotos: Rui Sousa
 

António Ventura

Doutor em História Contemporânea. Professor catedrático do Departamento de História da Faculdade de Letras de Lisboa. Foi Director do Departamento de História, do Centro de História da Universidade de Lisboa e da Área de História da Faculdade de Letras.

Académico de Número da Academia Portuguesa da História. Sócio efectivo da Academia de Marinha (Classe de História Marítima). Fez conferências e participou em congressos científicos em Espanha, França, Itália, Suíça, Luxemburgo, Estados Unidos da América, Canadá, Macau, China, Polónia, Bélgica, México e Rússia. Desenvolveu uma intensa actividade por ocasião do Bicentenário das Guerra Peninsular e do Centenário da proclamação da República, tanto em matéria de publicações como na participação em congressos e conferências. É autor de uma vasta bibliografia sobre História Contemporânea, com mais de 300 trabalhos publicados, dos quais se salientam os seguintes livros: O Imaginário Seareiro. Ilustradores e Ilustrações da revista «Seara Nova» (1990); José Régio – Correspondência (1994); António Sérgio e José Régio - um convívio epistolar (1994); Guerra de 1801 (1994); Entre a República e a Acracia. O Pensamento e a Acção de Emílio Costa (1994); O Combate de Flor da Rosa (1996); A Carbonária em Portugal (1999); O Marquês de Santa Iria nas Guerras Liberais (2000); Anarquistas, Republicanos e Socialistas: as convergências possíveis (1892-1919) (2000); José Régio e a Política (2000), Memórias da Resistência. Literatura Autobiográfica da Resistência ao Estado Novo (2001); O Cerco de Campo Maior em 1801 (2001); Estudos sobre História e Cultura Contemporâneas de Portugal (2004); A Guerra das Laranjas e a Perda de Olivença 1796 – 1801, Mouzinho da Albuquerque (2005); O Algarve visto pelos Estrangeiros (2205); História da Carris de Ferro de Lisboa (2005); Campanhas Coloniais (2006); Planos espanhóis para a Invasão de Portugal 1796 – 1801 (2006); Os Postais da Primeira República (2010), Mais Postais da Primeira República (2010); O 5 de Outubro por quem o Viveu (2020), Os Homens do 5 de Outubro (2010); Revoltar para Resistir. A Maçonaria em Almada (1898 – 1937) (2010); Os Constituintes de 1911 e a Maçonaria (2011); Magalhães Lima, um Idealista impenitente (2012), Uma História da Maçonaria em Portugal (2013), A Marinha de Guerra Portuguesa e a Maçonaria (2013), Portugal na Grande Guerra. Postais Ilustrados (2015) Silêncio e Virtude. Uma História da Maçonaria feminina em Portugal (2016), A Grande Guerra por quem a viveu.36 testemunhos portugueses (2018), Chefes de Governo maçons. Portugal (1835-2016) (2016), A Maçonaria Portuguesa e a Grande Guerra (1914-1918) (2018), A Maçonaria no Alto Alentejo (1821-1936) (2019); 120 Anos de Maçonaria no Algarve (1816 -1936) (2019). Uma História da Maçonaria em Portugal (1727-1986), (nova edição revista e ampliada, 2020); Nuno Rodrigues dos Santos. Coerência e Convicção (2021).

Tem colaboração em diversas publicações periódicas nacionais e estrangeiras: Colóquio Letras; Revista de História das Ideias, Revista da Faculdade de Letras, Revista da Biblioteca Nacional, Clio, Revista de Estúdios Extremeños, História, Gil Vicente, Vária Escrita, Macau, O Estudo da História, Boletim do Arquivo Histórico Militar, Boletim do Centro de Estudos Regianos, Boletim do Centro de Estudos José Régio, A Cidade, Olivença Revista de Estudos Históricos, Jurídicos e Diplomáticos, Ave Azul, Fórum, Finisterra, Lusitânia Sacra, Anais de Faro e Revista Militar.

 
 
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