Voz da Póvoa
 
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A Dança da Gimnoarte No Tecto Do Mundo

A Dança da Gimnoarte No Tecto Do Mundo

Cultura | 15 Dezembro 2021

“O corpo e sentimentos representam no palco uma unidade; ambos são a expressão da fragilidade da existência humana” pode ler-se numa das paredes do ginásio da Academia Gimnoarte em homenagem à grande bailarina e coreografa Pina Bausch.

Em bicos de pés ou em pontas bailarinas, a viagem teve início em 1985, pela mão de Odete Rios que gerou um casal de filhos, Ricardo Rios e Joana Rios, ambos seguram as pisadas não pelo mesmo caminho, mas segundo a mesma vocação.

“Ninguém na família me forçou a seguir os mesmos passos, mas desde muito pequena que a dança me fascinava, acima de tudo a parte criativa. Sempre gostei muito de dar aulas e de criar. Enquanto bailarina, coreógrafa ou professora, foram sempre os novos desafios que me cativaram. Na parte pedagógica quando sinto que os alunos estão a evoluir cresço em emoção. Chegam aqui, nem sabem andar e correr correctamente, e passados alguns anos ganham medalhas de ouro. Isso valoriza-nos também”, abriu com estas palavras a directora artística e técnica da Academia Gimnoarte, Joana Rios.

Nasceu na Póvoa de Varzim em 1976. É Licenciada em Ciências do Desporto e Educação Física, e professora de Ballet Clássico e Modern Jazz, pela Imperial Society of Teachers of Dancing ISTD – Londres. Começou a ensinar com 17 anos e nunca mais parou: “Enquanto as minhas amigas divertiam-se ou iam para a praia, eu ia para Londres ou Barcelona fazer mais um curso ou uma formação. Também trabalhei em televisão onde se exige tudo para ontem”.

Comparar os tempos apenas nos conduz a realidades diferentes: “Olho para as minhas filhas, a Miriam com 14 anos, no último campeonato do Mundo ganhou o prémio de melhor bailarina e a Eduarda com 11anos, além de ganhar muitos primeiros lugares enquanto grupo, conseguiu a medalha de prata num solo. Eu comecei a dançar com a idade da minha filha mais nova e tinha 90 minutos de ballet por semana, agora há uma carga horária e uma formação em várias áreas muito maior. Ou seja, há mais possibilidades de mercado, mas também para quem quer seguir a dança. Temos muitos alunos que hoje são bailarinos no estrangeiro, coreógrafos, outros seguiram a área artística de teatro, televisão ou trabalham em empresas ligadas ao espectáculo. A Gimnoarte é uma marca no Ballet, no Neo-Clássico, na Dança Contemporânea, Dança Jazz, Show Dance e Acrodance”.

O ensino fascina pela possibilidade de lidar com as emoções e competências de cada aluno, revela Joana Rios: “Temos alunos com níveis de aptidão bastante distintos. Alguns são bastante aptos, mas no momento de dar o melhor fragilizam-se e por vezes são os outros a contrabalançar e a dar força ao grupo. Penso que o espírito de união é o que todos levam desta academia. Tentamos sempre que se desenvolvam a nível individual, daí um trabalho mais persistente, com aulas diárias e ao sábado que é o dia que mais trabalhamos. Todos se entregam cerca de 10 horas por semana”.

E acrescenta: “Temos as vertentes: competitiva, de formação e a lúdica. Na vertente lúdica os alunos podem inscrever-se nas aulas de Ballet Clássico, Dança Contemporânea, Dança Jazz, Acrodance e Barra no Solo como componente extra. No fundo, inscreve-se como se fossem praticar um desporto qualquer. Se por um lado a condição física melhora, o equilíbrio segue-lhe as pisadas e o corpo evolui de forma muito equilibrada. Depois, passamos para a parte de formação em que os alunos têm exames regulares avaliados por professores ingleses, que atribuem diplomas a quem quer seguir a área académica ao nível do ballet clássico, que lhes permite dar aulas no futuro. Quanto à parte competitiva que nos permite participar nos campeonatos de dança, é uma ‘loucura’ em que estamos cada vez mais envolvidos. A Gimnoarte já inspirou muita gente ao nível da dança, isso quer dizer que conseguimos mudar a vida de alguém para melhor. Há alunos que querem fazer o que eu faço e quem sabe um dia até melhor, isso para mim é algo muito positivo”.

O Maior dos Títulos é Fazer da Competição um Espectáculo

“Para responder positivamente ao convite para participar no Got Talent Portugal - onde chegámos à grande final - é preciso um trabalho contínuo com alunos que estão na academia há alguns anos. Seleccionámos os melhores, com formação mais abrangente e aqueles que querem integrar o projecto. Depois, trabalhámos muito para atingir um alto nível competitivo. Dá-me um prazer enorme trabalhar as várias idades porque acabam por se unir as forças todas. Temos alunos que frequentam a Gimnoarte há 20 anos. Alguns estão na faculdade, em medicina, direito, mecânica, engenharias, mas vem cá dar um pé de dança à sexta e ao sábado”, explica.

A Academia Gimnoarte participou recentemente no Campeonato Mundial de Dança ‘All Dance World’, onde arrecadou vários títulos individuais e colectivos: “Decidimos não ir aos Estados Unidos, devido a esta conjuntura toda e participámos Online. A empresa Frontal ajudou-nos a montar tudo na sede da Matriz, filmámos todas as coreografias durante uma semana. Os cenários foram de tal forma convincentes que toda a gente pensava que estávamos a actuar num teatro. Contratámos uma equipa de maquilhagem e cabeleireiro, não faltou nada. Os alunos fizeram uma pausa escolar para poderem participar. Os resultados obtidos foram o culminar de muitos anos de trabalho. Tivemos prestações extraordinárias. Já tínhamos obtido o prémio de melhor escola, o melhor director e dentro do nosso grupo de 33 alunos, três tinham sido considerados os melhores bailarinos. Voltámos a repetir este feito no Mundial. A Academia Gimnoarte foi a escola que apresentou bailarinos com maior nível técnico e artístico, em todas as áreas que competiu. No grupo dos mais pequenos, dos 8 até aos 10 anos, ficámos em primeiro lugar em tudo. Sabia que no online podíamos perder pontos ao nível artístico, porque olhar nos olhos a expressão é arrebatador. Pela televisão a coisa pode mudar de figura. Por isso, apostámos mais em maquilhagem, a Frontal disponibilizou as luzes de fotografia que ajudou muito na criação da imagem. Todos os detalhes foram aprontados e os ensaios foram cuidadosamente estudados. Participámos com 60 coreografias e obtivemos notas muito altas, conseguimos ser a melhor escola enfrentado academias que estiveram presentes e fizeram o espectáculo ao vivo. Avaliaram o nosso nível de exigência, disciplina, dedicação e entrega em tudo o que fazemos. Estou muito orgulhosa por termos defendido o nome da Academia Gimnoarte, da Póvoa de Varzim e de Portugal”.

O segredo do sucesso explica-se segundo Joana Rios, pela motivação dos alunos: “Enquanto outros se queixavam por estar em casa devido à pandemia, nós mesmo virtualmente conseguimos manter o nível. A vontade individual dos alunos para trabalhar em casa foi fundamental, porque sempre fomos tendo objectivos. Alguns tiveram mesmo uma ascensão enorme. Tivemos um interregno de meses, mas conseguimos motivar os alunos com desafios, com vídeos, participámos num campeonato online ‘All Dance Portugal’ e num Mundial. Nunca relaxámos! Ganhar o prémio de melhor directora significa valorizar quem mais se empenhou para que tudo resultasse, o cenário, a qualidade da imagem, as coreografias nos vários estilos de dança apresentados”.

Dançar na Gimnoarte é Criar os Passos de Uma Identidade

Uma boa razão para se inscrever na Gimnoarte: “O que nos define é a possibilidade de dar o maior número de experiências possíveis a uma criança ao nível da dança. Ou seja, um leque muito diversificado de estilos de dança. Simultaneamente é uma escola onde há uma certa liberdade. No ensino articulado há um programa a seguir. Recebemos crianças a partir dos 2 anos e meio. Até aos 5 anos só temos ballet clássico porque é a base de tudo, onde aprendem a técnica. A criança começa a perceber o que é o braço esquerdo ou o direito, o que é para fora ou para dentro, ter noção do seu corpo, o corpo em relação ao espaço, aprendem a parte auditiva adequada ao ritmo. A criança desenvolve a sua capacidade criativa, de se expressar a nível facial, a parte mímica, no fundo é uma expressão dramática misturada com dança e técnica, para que o corpo se prepare para o futuro. Aí está o desenvolvimento da postura de um bailarino, a sua humanidade”.

A partir dos cinco anos “é apresentado um leque de opções e as crianças ficam maravilhadas com a dança jazz, a dança contemporânea, o show dance e a acrodance. Aí extravasa toda a energia em palco, as roupas são mais actuais e eles adoram isso. Ou seja, os alicerces têm que estar bem desenvolvidos para que não haja má formação no desenvolvimento do corpo da criança. Temos que ter noções de anatomia do corpo”, explica Joana Rios.

E acrescenta: “Damos uma semana gratuita para experimentar todas as ofertas ao alcance da idade de quem nos procura. Depois o professor vê onde o aluno se integra melhor, sempre em sintonia com os pais e o aluno(a). Todos os nossos professores são licenciados. A parte criativa que levamos a concurso, sou eu a coreografar porque sei tudo o que posso fazer com os alunos, estou todos os dias com eles, o mesmo não acontece com outros professores. Quando somos donas do espaço, damos muito mais horas ao que gostamos de fazer. Neste momento, estamos a preparar uma exibição para responder a um convite para participar na Gala do Circo de Natal da RTP, que será transmitida no dia de Natal”.

Joana Rios gostava que no futuro a Academia Gimnoarte ganhasse o seu próprio espaço: “Somos uma escola de Artes, com a oferta de várias experiências no campo da dança. Temos convidado professores reconhecidos para fazerem workshops, residências artísticas de outros estilos de dança e de arte. Acabamos por dar uma formação muito abrangente. Estamos muito bem onde estamos, as nossas condições são óptimas, mas se tivermos um espaço fixo, nosso, para conseguir dar asas ao meu mundo criativo, esse é o ouro que falta conquistar. Quanto à Gimnoarte já criámos uma identidade”.

por: José Peixoto

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