Num recanto escondido do mundo, por trás das montanhas e dos rios que os mapas revelam, existe uma floresta encantada chamada Silvaroma. Esta floresta é um segredo bem guardado pela natureza: lar de criaturas mágicas, árvores que sussurram histórias antigas e luzes dançantes que guiam os viajantes de coração puro e peregrinos de Santiago de Compostela com as suas conchas Vieira presas à mochila.
No centro desta floresta, estende-se um imenso campo de girassóis dourados, tão vasto que o olhar se perde no horizonte laranja do ocaso.
O sol brilha com uma intensidade especial, como se aquele fosse o seu lar secreto. Dizem os anciãos da floresta que o sol dança com os girassóis todas as manhãs e que, por isso, eles nunca deixam de sorrir.
À beira deste campo, há uma aldeia encantadora de casas de pedra, com telhados cobertos de musgo verdejante e portadas pintadas de um verde vivo, da cor das folhas frescas após a chuva.
É a aldeia dos Duendes do Sol Nascente, pequenos seres de olhos brilhantes, chapéus pontiagudos e corações risonhos.
Vivem em harmonia com a natureza, cuidando dos animais, limpando as águas e ajudando as árvores a crescerem direitas e fortes.
Mas nem tudo era paz.
Uma antiga magia adormecida começava a acordar nas profundezas da floresta.
Algo sombrio sussurrava entre os salgueiros, algo que nem mesmo os pássaros – que voavam em formações mágicas, como sinfonias policromáticas no céu – ousavam mencionar em voz alta.
Foi então que as Fadas Madrinhas, que vivem nas pétalas das flores mais raras, sentiram o desequilíbrio. Numa noite de luar prateado, desceram à aldeia dos duendes numa miríade de poeira luminosa.
Eram seres de luz e sabedoria, com asas feitas de cristal de orvalho e vozes doces como mel.
A mais velha entre elas, a Fada Dália, anunciou:
"– Uma sombra desperta nas raízes da floresta. Se não for contida, até o sol deixará de sorrir sobre o campo dos girassóis."
Os duendes, corajosos mas prudentes, decidiram convocar os Pássaros-Viajantes, aves encantadas que cruzam reinos e dimensões com um só golpe de asas.
Montados em penas cintilantes, partiram em busca da Árvore-Coração, uma árvore lendária cujo fruto concedia o poder de restaurar a harmonia.
A jornada foi longa. Passaram por nevoeiros falantes, cavernas onde o tempo dormia e lagos que cantavam com a brisa. Mas com a ajuda das fadas madrinhas e da sabedoria dos pássaros, encontraram a Árvore. Acolheram o fruto sagrado com gratidão e regressaram à aldeia ao primeiro nascer do sol.
Com o fruto nas mãos da Fada Dália, uma luz intensa espalhou-se por toda a floresta. A sombra dissolveu-se como neblina no vento.
Os girassóis dançaram com mais alegria, os duendes celebraram com canções e os telhados de musgo pareceram brilhar com vida nova.
Desde esse dia, todas as manhãs, quando o sol se levanta sobre Silvaroma, pode ouvir-se uma canção suave nascida no campo de girassóis – uma melodia que fala de coragem, amizade e da magia que vive onde o coração acredita com fé e esperança.
E se algum dia passares por uma floresta onde os girassóis cantam, para e escuta. Talvez ouças a história contada por uma fada ou um duende sorridente à janela de uma casa de pedra com portada verde…
Isabel Rosas, escritora