O clube de cinema 8 e meio, da Escola Secundária Eça de Queirós granjeou um lugar cativo na sala principal do Cine-Teatro Garrett, onde em cada ano apresenta a Cerimónia de entrega dos prémios aos alunos que inscrevem a sua criatividade no Concurso de Vídeo Escolar 8 e Meio. Realizadas 17 edições, quisemos saber um pouco mais e fomos conversar com o professor Marcelino Viana, um dos responsáveis por se manter de pé uma ideia de sétima arte, num espaço onde o verbo se liberta do sujeito para o desassossego da criação.
A Voz da Póvoa – Qual o principal objectivo do Concurso de Vídeo Escolar?
Marcelino Viana – O Concurso de Vídeo Escolar 8 e Meio surgiu, numa primeira fase, com o objectivo da criação de uma plataforma de exibição/premiação de projectos de cinema realizados por alunos da ESEQ. Numa segunda fase, entendeu-se que poderia ser alargado a alunos da zona norte. O projecto evoluiu, na terceira edição, para o formato que mantém até hoje, sendo dirigido aos alunos que frequentam o ensino secundário nas escolas portuguesas.
A.V.P – Como se prepara e quais as regras a respeitar pelos concorrentes?
M.V. – Na realidade, um novo concurso começa a ser preparado mal termina a edição anterior. Numa primeira fase, é elaborado um cartaz, que é enviado fisicamente para todas as escolas do país com ensino secundário e um site, que, contendo toda a informação necessária, possibilita ainda aos concorrentes fazer o upload dos seus filmes. Finalizado o prazo de recepção dos filmes, há o convite aos jurados e as respectivas reuniões finais que conduzem ao palmarés. Finalmente, começam os preparativos para a cerimónia de encerramento, procurando-se envolver a comunidade educativa, sobretudo os alunos da ESEQ, na respectiva organização. Quanto às regras do concurso, explicadas de um modo rápido, implicam que os participantes estejam matriculados ou inscritos em exames no ano lectivo a que se reporta o concurso e que enviem filmes inéditos com uma duração máxima de oito minutos e meio.
A.V.P. – Onde são produzidos os filmes e com que apoios lidam os concorrentes?
M.V. – Os filmes são realizados/produzidos pelos alunos e não obrigatoriamente em contexto escolar. Os apoios são aqueles que cada aluno conseguir angariar. Obviamente, as escolas possuem equipamentos que podem ceder e, eventualmente, corpos docentes aptos para ensinar as diversas fases de construção de um objecto fílmico. Contudo, o convite é endereçado aos alunos, podendo estes organizar a produção dos seus filmes da maneira que acharem mais conveniente.
A.V.P. – Há uma diversidade de filmes ou os temas acabam por se cruzar com uma certa actualidade?
M.V. – Os temas são muito diversos, remetendo forçosamente para uma certa noção de actualidade. O clube 8 e meio detém já um interessante espólio de filmes, que permite “estudar” o olhar dos adolescentes sobre a(s) realidade(s) que lhes é dado viver. São, nesse sentido,” filmes políticos”, partindo sempre de uma visão externa e crítica dos mecanismos que “governam” as sociedades, realizados por jovens com a ambição de pensarem o mundo a partir das suas posições muito particulares e, por vezes, peculiares. É entusiasmante…
A.V.P. – Que balanço faz desta edição?
M.V. – A 17.ª edição deixou-nos com vontade de trabalhar na 18.ª, o que por si só, é estimulante. O balanço é, pois, francamente positivo. Apresentamos no Cine-Teatro Garrett uma série de programas especiais que constituíram um complemento interessante à exibição dos filmes premiados. Curtas de Segundo de Chomón, musicadas pelo Domingos e pelo João Praça, o filme Memórias de Pau-Preto e Marfim, da jovem realizadora Inês Costa e o segmento O Filme da Minha Vida, com o director de fotografia Rui Xavier a evocar o filme de Jim Jarmusch, Stranger Than Paradise, foram alguns dos momentos altos da Festa do Cinema Escolar que deixaram, queremos acreditar, os espectadores felizes e com vontade de voltar.
A.V.P. – Como resumiria as 17 edições e a sua evolução qualitativa?
M.V. – Tem sido uma bela aventura, que nos lembra que as escolas não podem ficar reféns apenas dos currículos oficiais e de aulas entre quatro paredes. Rompendo com esta lógica, este projecto, junto com outros, evidentemente, prova que se pode diversificar a vivência da escola, com recurso, no caso vertente, a uma das mais interessantes e poderosas ferramentas pedagógicas, o cinema. Quanto à evolução, o Cine-Teatro Garrett, casa onde habitualmente nos apresentamos, oferece dignas condições de projecção dos filmes, estando estes também em constante evolução, apresentando uma qualidade média que sempre nos surpreende.
A.V.P. – Entre os concorrentes das 17 edições, há algum premiado que tenha produzido outros filmes ou feito carreira no cinema?
M.V. – Tentamos seguir o percurso dos alunos que connosco interagem. Se para alguns dos participantes, a entrega de filmes correspondeu a uma vontade pontual que não teve depois desenvolvimentos, outros há, que “debutando” no Concurso de Vídeo Escolar, prosseguiram uma carreira na 7ª arte, sendo actualmente realizadores no activo e bastante considerados. Tivemos, inclusive, ex-alunos concorrentes que voltaram ao nosso convívio, apresentando primeiras obras, feitas de uma forma mais profissional, o que nos deixa, como é fácil de imaginar, extremamente contentes e orgulhosos.
Por: José Peixoto
Fotos: JCM/CM